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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Nova obra de Marcos Laffin é um mergulho sensível pela história e pelas raízes da literatura catarinense

 




A literatura catarinense ganha novo marco editorial com o lançamento de “Vozes e Ecos da Cadeira 9 da Academia Catarinense de Letras”, obra de Marcos Laffin, atual titular da cadeira que dá nome ao livro. Mais do que um resgate histórico, o autor constrói uma reflexão sensível sobre o tempo, a memória e o papel dos acadêmicos que ajudaram a desenvolver a cultura e a produção intelectual do Estado ao longo de mais de um século.


O livro é apresentado como uma travessia entre passado e presente, uma costura que combina pesquisa, sensibilidade e rigor documental. “Este livro não é apenas um registro factual, é um tributo à trajetória humana, social e literária daqueles que ocuparam a Cadeira 9. Escrevê-lo foi um gesto de escuta e de respeito às vozes que nos precederam”, afirma Laffin.


A história de uma cadeira que acompanha o tempo

A obra revisita a fundação da Academia Catarinense de Letras em 1920 e reconstrói a linhagem dos ocupantes da Cadeira 9, revelando nuances pouco conhecidas da vida e do pensamento de nomes como: Feliciano Nunes Pires, Amphilochio de Carvalho Gonçalves, Ivens Bastos de Araújo, Martinho José Callado Júnior, João Nicolau Carvalho e Marcos Laffin, o atual titular.


Cada um ganha um capítulo que, mais do que biografar, interpreta suas ações, convicções e interferências no campo social, político e cultural de seu tempo. “Procurei compreender como esses homens dialogaram com o mundo em que viveram, como suas inquietações se transformaram em ações e como suas ideias ainda reverberam hoje”, reforça Marcos Laffin.


Entre o documento e a poesia: um livro que mistura rigor e sensibilidade

Laffin explicita no texto que não se trata de historiografia tradicional. A obra nasce do cruzamento entre pesquisa bibliográfica, entrevistas, consulta a documentos e uma leitura atenta das fontes, mas também de uma escrita que reivindica espaço para o afeto e o olhar poético. “A subjetividade não é um desvio; é parte da experiência humana que esses acadêmicos viveram e legaram. O livro tenta honrar essa dimensão”, comenta.


Esse encontro entre a precisão documental e o lirismo aparece já no trecho de abertura, em que o autor escreve:


“Somente o tempo,

no diálogo com o próprio tempo,

poderá se desmanchar em outro tempo

para outras existências.”


Segundo Laffin, esse poema “representa a metáfora da imortalidade acadêmica, esse fenômeno paradoxal entre permanência e finitude”.


Imortalidade, tempo e legado: um debate sobre existência

A reflexão sobre a imortalidade — conceito tão caro às academias de letras — aparece como linha mestra da narrativa. O autor propõe que “o imortal” não é um título estático, mas uma energia em movimento: o eco das ideias que sobrevivem ao corpo físico. “A imortalidade, para mim, não é estátua nem marfim. É movimento. São as ideias que continuam soprando ao vento e encontrando novas consciências”, afirma.


Laffin descreve os acadêmicos como figuras atravessadas por sua época, mas que deixaram registros capazes de ultrapassar o tempo. “Cada gesto deles, cada texto, cada posicionamento… tudo isso segue reverberando, porque nenhuma existência é isolada. Há sempre ecos.”


A educação como eixo e compromisso social

Um dos pontos comuns identificados por Marcos Laffin é o papel da educação na trajetória dos ocupantes da Cadeira 9, seja como professores, intelectuais públicos, líderes culturais ou mediadores sociais.


Para ele, a educação é o grande fio condutor das histórias narradas. “Percebi que todos, à sua maneira, compreenderam a educação como direito e como projeto de transformação. Isso me tocou profundamente, porque também é a minha travessia pessoal”, destaca.


Um autor que também se assume personagem

Ao mesmo tempo pesquisador e poeta, Laffin não se coloca fora da narrativa. Ele integra sua própria trajetória literária, acadêmica e existencial ao conjunto, numa autorreflexão que amplia a compreensão do papel das academias num país em constante transformação. “Não escrevi sobre mim como vaidade, mas como continuidade. Sou parte dessa história e também parte das inconclusões que movem a literatura catarinense”, afirma.



Uma obra para preservar e projetar a literatura de Santa Catarina

“Vozes e Ecos da Cadeira 9 da ACL” reafirma o compromisso da Academia Catarinense de Letras com a preservação da memória cultural do estado — e evidencia o quanto as vozes de diferentes épocas ajudam a construir a identidade literária catarinense.


Para Laffin, o livro é também um convite. “Quero que o leitor se sinta chamado a refletir sobre o humano, sobre o tempo, sobre aquilo que permanece e aquilo que o vento leva. A literatura é esse lugar onde o efêmero e o eterno conversam”, diz.


A certeza que permanece

A obra deixa como legado a percepção de que, embora a vida seja marcada pela finitude, as palavras seguem como testemunho e como rastro. O autor encerra a publicação com uma metáfora que resume toda a construção do livro: “Acreditamos ser sólidos, mas a própria literatura nos lembra que, no campo da terrenalidade, ‘tudo o que é sólido pode se desmanchar no ar’. O que fica são os ecos.”

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