Não adianta morrer contém a violência de muitos Brasis: o contemporâneo, os dos últimos tempos e os de séculos atrás. O narrador de Maciel relaciona, por exemplo, histórias de escravizados que se viciavam em comer terra nas fazendas, e por isso sofriam a punição de ter que vestir a máscara de flandres, com histórias de viciados em cocaína nos dias de hoje: leitores atentos perceberão a relação do pó ao pó. A atualização que Maciel produz, com sua observação perspicaz, desse e de outros muitos detalhes do país, é pujante.
Por outro lado, não se torna maçante, muito menos inviável, a leitura do texto coalhado de tragédias; pelo contrário, isso porque a excentricidade de muitos dos personagens da narrativa, como Pedrão, Vovô do Crime, Guile Xangô, Mirtes, Dafé, Marcelo Cachaça, as Comadres, os Quatro Mandelas, de certo modo diverte e faz uma representação digna do país que tem em seu povo o agente de transformação social mais criativo e fecundo.
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