O espetáculo é uma adaptação do romance homônimo de Mariana Salomão Carrara e trata de temas como vida e impermanência, memória e apagamento, maternidade e luto, resistência e recomeços
Crédito: Tomás Franco
Um trágico e absurdo acidente que muda a vida de duas mulheres é tema de Não Fossem as Sílabas do Sábado, uma adaptação para o romance da escritora e defensora pública Mariana Salomão Carrara, que levou o Prêmio São Paulo de Literatura em 2023. O espetáculo, que estreou em 2024 e rendeu à Liana Ferraz, o Prêmio Shell de melhor dramaturgia, agora ganha duas novas sessões no Centro Cultural São Paulo (CCSP), nos dias 17 e 18 de junho, às 20h.
A peça tem ainda direção de Joana Dória e elenco formado por Carol Vidotti e Fábia Mirassos. A ideia de transportar o romance para o palco surgiu de um encontro casual entre Vidotti e a autora Mariana Salomão Carrara na plateia de outro espetáculo, em junho de 2023.
“Eu perguntei para a Mariana se ela já tivera um livro seu adaptado para o palco e ela disse que adoraria que isso acontecesse. Nesse instante, a semente do projeto brotou na minha cabeça. Voltei para casa completamente eufórica, entendendo que ‘Não fossem as sílabas do sábado’ era a história que eu vinha buscando para contar numa peça. Tinha lido o livro numa quinta-feira de janeiro e me envolvido profundamente com essas personagens”, revela Vidotti, que assina a idealização da montagem.
A trama se passa em uma manhã de sábado, quando Ana, que está em uma loja de molduras, liga para seu marido André, pedindo ajuda para carregar o quadro com o pôster do filme favorito do casal. Como a casa dos dois fica ali perto e André está demorando muito, a esposa começa a suspeitar do atraso.
Um trágico acidente muda a vida de Ana e de sua vizinha Madalena, que moram no mesmo prédio, mas mal se conhecem: o marido de Madalena, ao pular da janela, desaba justamente sobre André. A partir de então, o que une as duas viúvas passa a ser justamente o que as separa. Em uma rotina de ausências, elas vão se aproximando e, juntas, atravessam a dor, a chegada de uma criança e as agruras do recomeço. Assim, nasce uma amizade que, talvez, expanda o que se entende por família.
“O luto vertiginoso que a narradora atravessa, as dores de ter seu plano de futuro perfeito destruído, as dificuldades com a maternidade, e a maneira como, acima de tudo, essas duas mulheres constroem uma relação de amizade e reformulam juntas o entendimento de família eram temas que vinham de encontro às minhas inquietações artísticas”, acrescenta Vidotti.
Sobre a sensação de ver seu romance adaptado para a cena, Mariana Salomão Carrara relata: “Descobri que dentro da minha cabeça de escritora, possivelmente dentro de qualquer cabeça de escritora, existe uma espécie de palco. Só me dei conta disso quando vi, num ensaio, as atrizes materializando as palavras que em algum momento escutei dentro da minha cabeça. Fiquei muito emocionada e perdida ouvindo a conversa num léxico que não é o meu – figurino, sombras, refletores – tentando compreender esse fenômeno que é tragarem para fora do livro e da cabeça de escritora essas vidas e essas dores que parecia que eu estava conhecendo de verdade apenas ali”.
A adaptação da obra para os palcos vem como disparador de temas caros de trazer para o debate público, como vida e impermanência, memória e apagamento, maternidade e luto, resistência e recomeços, amizade e amor. Tudo sob uma perspectiva feminina.
Liana Ferraz, que adaptou a obra, comenta: “ganhar o Shell com a adaptação de um livro para os palcos celebra a união de duas linguagens que têm se revelado potentes e complementares. Além da consagração da literatura em cena, a peça aborda um tema que tem me mobilizado muito. A obra fala sobre amizade entre mulheres. E, não se enganem, não há nada de trivial nisso. Mulheres que se reconhecem como novas configurações de comunidade, de trabalho, e de família, salvam as vidas umas das outras todos os dias”, completa.
Já a diretora Joana Dória revela que se encantou pelo encontro das duas mulheres. “Mergulhamos no processo criativo querendo fazer peça do romance: manter seus traços estilísticos, suas imagens e adjetivos; explorar seu ritmo, seus fluxos, seus jorros, o transbordamento de palavras; e ter nossa prática teatral movimentada pela matéria da literatura. Como o texto literário pode ser transformado em expressão performativa, sonora, espacial e plástica? Como essas diferentes abordagens textuais podem dialogar entre si na criação cênica, sem que percamos de vista o objetivo simples de ser veículo de uma boa história?”, indaga.
Além dos temas discutidos pela peça, as artistas destacam a importância de se trazer ao público uma adaptação de uma obra literária, instigando e incentivando as pessoas a tornar o ato de ler, acima de um hábito, uma prática social significativa para um avanço de nossa capacidade de estar no mundo.
Ficha Técnica:
Direção: Joana Dória
Elenco: Carol Vidotti e Fábia Mirassos
Dramaturgia: Liana Ferraz
Autora: Mariana Salomão Carrara
Direção de movimento: Nina Giovelli
Assistência de direção: Abel Xavier
Trilha Sonora: Pedro Semeghini
Cenografia: Andreas Guimarães
Figurino: Érika Grizendi
Visagismo: Fábia Mirassos
Projeções e mapping: Vic von Poser
Desenho de luz: Henrique Andrade
Direção técnica: Giovanna Gonçalves
Cenotécnico: José Da Hora
Fotos: Tomás Franco
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio Assessoria de Comunicação
Idealização: Carol Vidotti
Produção: Paula Malfatti
Coordenação geral: Carol Vidotti
Sinopse
Ana e Madalena são vizinhas, moram no mesmo prédio, mas mal se conheciam até um fato trágico marcar a vida das duas e mudar os rumos de suas histórias. O marido de Madalena, ao pular da janela, desaba justamente sobre o marido de Ana. E, a partir disto, o que as une é o que as separa. Na rotina das ausências, as duas viúvas vão se aproximando: atravessam a dor, a chegada de uma criança, as agruras do recomeço. Nasce uma amizade, que talvez expanda o que se entende por família. Não fossem as sílabas do sábado é uma adaptação teatral do romance homônimo de Mariana Salomão Carrara. Vencedora do Prêmio Shell e indicada ao Prêmio APCA, ambas na categoria dramaturgia, assinada por Liana Ferraz.
Serviço
Não Fossem as Sílabas do Sábado
Apresentações: 17 e 18 de junho de 2025, na terça e na quarta, às 20h
Centro Cultural São Paulo – Sala Ademar Guerra - Rua Vergueiro, 1000. Liberdade
Ingressos: gratuitos, distribuídos 2h antes na bilheteria do teatro
Classificação: 14 anos
Duração: 90 minutos
Capacidade: 100 lugares
Acessibilidade: espaço acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
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