
Com crescimento anual de duas dezenas de por cento, hospitais e laboratórios reprodutivos entram no centro de uma nova agenda de natalidade. Entre inovações tecnológicas, congelamento de óvulos e políticas públicas urgentes, especialista fala de uma verdadeira revolução silenciosa na forma como concebemos família.
O sonho de constituir uma família, há gerações, era uma trajetória quase certa para a maioria, casamento, filhos, continuidade. No século XXI, esse enredo virou filme com múltiplas versões: casais que adiam os planos, mulheres que escolhem preservar óvulos, homens atentos à qualidade dos espermatozoides e laboratórios ganhando protagonismo. “Em meio a esse cenário, a técnica da Fertilização in Vitro (FIV) e demais tecnologias de reprodução assistida deixam de ser exceção e passam a ocupar um papel central na “agenda da fertilidade””, comenta o ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana, Dr. Orlando Monteiro.
No Brasil, os números falam por si. O relatório oficial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra que, em 2021, foram realizados 45.952 ciclos de FIV no país. Em paralelo, os dados de congelamento registraram mais de 154.630 óvulos congelados em 2020 e 2021. Segundo projeções da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), o setor pode crescer em média 23% ao ano até 2026.
Não se trata apenas de mais procedimentos, trata-se de uma mudança de paradigma: planejamento reprodutivo, autonomia, e o uso da tecnologia como aliada da biologia.
Tecnologias que ampliam o campo
Enquanto a FIV segue sendo o “carro-chefe”, outras inovações entram no radar: vitrificação de óvulos (preservação da fertilidade), diagnóstico genético pré-implantacional, criopreservação de embriões e técnicas de doação de gametas, todas com impacto direto no que se entende por “tempo certo” para a gestação.
Por exemplo: vitrificação, ou congelamento ultrarrápido, permite que óvulos sejam preservados por anos sem perda significativa de qualidade. Isso abre novas possibilidades para mulheres que ainda não querem engravidar mas desejam manter a opção aberta.
Além disso, a expansão de técnicas de doação de óvulos ou espermatozoides, e o uso mais flexível de gametas de doador, ampliam o conceito de fertilidade para além do casal heterossexual tradicional.

Incentivos à natalidade e planejamento reprodutivo
Com taxas de natalidade em declínio e o envelhecimento populacional como preocupação crescente, alguns países começam a incluir no radar políticas públicas que conectam reprodução assistida e planejamento familiar. No Brasil, embora ainda inadequadamente exploradas, essas ideias começam a emergir: desde incentivos fiscais à preservação da fertilidade até maior visibilidade para o congelamento de óvulos como ferramenta de planejamento reprodutivo.
Essa intersecção entre saúde, biotecnologia e política pública é crucial: não se trata apenas de “ajudar quem não consegue engravidar”, mas de reconfigurar a forma como a sociedade vê o tempo da maternidade e paternidade e de dar suporte técnico, médico e filosófico à liberdade de escolha.
Se você está considerando a maternidade ou paternidade em algum momento da vida, essas são as “novas regras” que merecem atenção:
- Considere exames de reserva ovariana ou espermograma cedo, não espere que somente o relógio biológico te alerte.
- Se sua meta é adiar a gestação, o congelamento de óvulos ou espermatozoides pode ser um plano real, com orientação médica adequada.
- Procure clínicas de reprodução assistida sérias, que ofereçam transparência sobre taxas de sucesso, tecnologia usada e acompanhamento clínico.
- Esteja consciente de que, mesmo com tecnologia, idade e saúde geral continuam sendo determinantes. A biotecnologia ajuda, mas não elimina todas as dificuldades.
- Entenda que planejamento reprodutivo também é diálogo: com parceiro, com médico, com seus valores de vida.
O Dr. Orlando Monteiro conclui: A fertilização in vitro e as tecnologias de reprodução assistida deixaram de ser apenas “último recurso”, tornaram-se componentes centrais da nova agenda da fertilidade. Em um Brasil que precisa repensar natalidade, autonomia e tempo de vida, essas técnicas funcionam como ponte entre desejo e realidade. O que antes era sonho para poucos está se tornando opção para muitos, desde que se caminhe com ciência, ética e acesso.

Dr. Orlando Monteiro (CRM/SP 73806 | CRM/MS 3256)
Ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana
Há mais de 25 anos ajudando mulheres a realizarem o sonho da maternidade. Referência em FIV, inseminação, congelamento de óvulos, histeroscopia e tratamento da endometriose, une experiência, empatia e alta tecnologia para cuidar da fertilidade de forma completa e acolhedora.
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