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quarta-feira, 9 de julho de 2025

Os anos de chumbo e o caminho para a liberdade

Geração lança livro do ex-guerrilheiro Cid Benjamin com história do golpe militar em linguagem para jovens

"Democracia Sempre! – Ditadura Nunca Mais", de Cid Benjamin (Geração Editorial, 160 pp., R$ 64,00 e-book R$ 36,00), percorre os marcos históricos do país, de 1930 a 1985, período da ditadura militar, com um relato preciso dos acontecimentos e uma reflexão essencial sobretudo para as novas gerações.

Benjamin viveu como poucos aqueles tempos difíceis. Ele foi um dos protagonistas da luta contra os chamados “anos de chumbo”, quando, desiludidos com a possibilidade de o país voltar à normalidade, grupos principalmente de jovens decidiram enfrentar os militares pelas armas, numa guerra desigual.

Com um texto claro e envolvente, apoiado em fotos históricas, Benjamin narra, entre outras coisas, como participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick e como, por causa disso, foi preso e torturado. 

O autor começa essa história revisitando a Era Vargas (1930-1945), que marcou o início de um governo centralizador, com avanços na industrialização e direitos trabalhistas, mas também com o Estado Novo, período autoritário, de repressão e censura.

A redemocratização trouxe a República Populista (1946-1964), mas a instabilidade política culminou no Golpe Militar de 1964, instaurando a ditadura que duraria 21 anos.

O período militar foi marcado por censura, prisões arbitrárias, torturas e a supressão de liberdades individuais. Enquanto a resistência crescia, a oposição intelectual e a imprensa independente denunciavam a repressão.

O ciclo autoritário finalmente terminou em 1985, com a eleição indireta de Tancredo Neves – e a posse de José Sarney, por causa da morte de Tancredo – abrindo caminho para uma nova Constituição e a restauração das liberdades civis.

A história desse período reforça uma lição essencial: a democracia nunca pode ser negligenciada. Por isso, Cid Benjamin faz um alerta poderoso: não podemos baixar a guarda, pois há sempre aqueles que tentam arrastar o Brasil de volta ao autoritarismo.

Opinião do jornalista Juca Kfouri

Não esquecer. Para que não se repita.

O golpe militar de 1964 não é para ser comemorado, mas lembrado, explicado, para, com perdão pelo chavão, não se repetir, nem como tragédia, nem como farsa, nunca mais!

Cid Benjamin, lúcido e didático, conta o golpe como o golpe foi sem tirar nem pôr, sem se preocupar em puxar a brasa para sua sardinha.

Conseguiu resumir em poucas páginas, com a necessária contextualização histórica, os acontecimentos que marcaram o Brasil dos anos 1930 até 1985, de Getúlio Vargas a José Sarney. 

Bom para reavivar a memória de quem viveu boa parte desses anos, excelente para quem só ouviu falar, principalmente para as novas gerações, pois é frequente a ignorância e até a incredulidade de jovens que tiveram a sorte de não viver os anos de chumbo.

Torturar era política de Estado? Como?! Aqui?! 

Opositores eram mortos nos porões das delegacias? Hein?! No Brasil?! Tipo assim?! Literalmente?!

Certamente por não realizar bem em suas mentes as trevas vividas então, tivemos em anos recentes, pelo voto, a ameaça do retorno à escuridão. O simples fato de se eleger um fã de torturador dá a medida.

Daí a importância do brilhante relato aqui feito pelo humanista Cid Benjamin. 

Viva a Democracia! Viva o Brasil! 

Opinião da jornalista Cristina Serra

Aprender com o passado

Um país não constrói seu futuro se não for capaz de aprender com seu passado, por mais doloroso que seja olhar para trás. A ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência mostrou, da pior maneira possível, o quanto fez falta um processo de justiça de transição no Brasil, ao fim da ditadura de 21 anos.

Países vizinhos tragados pelo mesmo ciclo autoritário na América Latina, como Argentina e Chile, tiveram a coragem de mergulhar na monstruosidade dos porões e puniram militares assassinos e torturadores. Souberam honrar a memória das vítimas do horror.  

Só muito tardiamente, no primeiro mandato de Dilma Rousseff, o Brasil teve a sua Comissão Nacional da Verdade, recebida com desagrado por setores militares, os mesmos que apoiariam a candidatura de Bolsonaro, em 2018. O pesadelo de quatro anos mostrou que a ditadura, instaurada pelo golpe de 1964, deixou um legado autoritário que ainda ecoa entre nós.

Cid Benjamim foi da chamada Geração 68, que se engajou na luta contra a tirania com desassombro e generosidade. Seu livro oferece aos jovens de hoje o relato contextualizado do que foram os “anos de chumbo”. Seu testemunho vívido e crítico mostra que nossa evolução civilizatória depende de um compromisso radical com a democracia.

O AUTOR

Cid Benjamin foi dirigente do movimento estudantil nos idos de 1968 e da resistência armada à ditadura militar – e um dos idealizadores e executores do sequestro do embaixador norte-americano, Charles Elbrick, em 1969. Foi preso em abril de 1970 e libertado em troca do embaixador alemão, também sequestrado pela guerrilha. Esteve no exílio por quase dez anos. De volta ao Brasil, com a anistia, trabalhou em entidades sindicais, nos jornais “O Globo” e “Jornal do Brasil”, na OAB/RJ e na revista “Socialismo e Liberdade”. Foi professor na Faculdade de Comunicação Hélio Alonso e vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). É autor dos livros Hélio Luz, um xerife de esquerda (Relume Dumará, 1998), Gracias a la vida (José Olympio, 2014), Reflexões rebeldes (José Olympio, 2016) e Estado policial: Como sobreviver (Civilização Brasileira, 2019). Organizou a coleção Meio século de 68 – Barricadas, história e política (Mauad, 2018), juntamente com Felipe Demier, e a coletânea O ovo da serpente: A ameaça neofascista no Brasil de Bolsonaro (Mauad Editora, 2020), com Felipe Demier e Valério Arcary.

ENTREVISTA


Entrevista de Cid Benjamin a Rosa Freire d’Aguiar em 7 de julho de 2025.

 

Rosa Freire D’Aguiar — O seu livro “Democracia sempre!” aborda a nossa história recente. Vai da década de 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao poder, até a promulgação da atual Constituição federal, em 1988, que trouxe de volta a democracia. Por que você se fixou neste recorte histórico?

Cid Benjamin — Este tempo marca o Brasil moderno, industrializado e contemporâneo. Para se compreender o que é o que somos hoje é preciso se debruçar sobre ele. Foi um período em que, também, houve importantes mudanças no mundo que impactaram decisivamente nosso País. 

 

RFA — Entre altos e baixos, o Brasil, já com a nova Constituição, atravessou presidências democráticas. No entanto, em 2018 tivemos um retrocesso, com a extrema-direita chegando ao poder com a eleição de Bolsonaro. Como explicar essa oscilação política que tanto nos afetou e ainda nos ameaça?

 

CB — Não só no Brasil há ameaças desse tipo. Este é um fenômeno global. Mas a construção da democracia é, em todo o mundo e em todos os tempos, um processo de aperfeiçoamento contínuo. Novos desafios surgem e novas condições se apresentam. Isso acontece mesmo em sociedades mais maduras e em democracias consolidadas. Com muito mais razão ocorre em países em que os valores democráticos não estão plenamente consolidados, como o nosso, que mantém marcas do autoritarismo da monarquia e de tantos séculos dessa chaga que foi a escravidão. 

 

RFA — Com uma linguagem clara, didática, apoiada em fotos e glossários e uma diagramação que facilita a leitura, você escreveu “Democracia sempre!” pensando nos leitores mais jovens, e que conheceram menos a realidade das últimas décadas. Como você vê o ensino da nossa história recente (digamos, os últimos cem anos) nas escolas brasileiras?

 

CB — Vejo com preocupação. Não por acaso o público-alvo desse livro é a juventude. A denúncia da desigualdade social, motivo de vergonha para todos com um mínimo de sentimento humanista, deveria estar presente de alto a baixo no estudo da nossa história. O eixo condutor para a compreensão do Brasil deveria ser a herança da escravidão, que ao longo de séculos foi o sustentáculo da sociedade. Se isso tivesse acontecido, o ensino da história ajudaria a despertar os brasileiros — desde os bancos escolares — para as iniquidades que sempre marcaram o País e se mantêm até hoje.

 

RFA – Você foi um dos muitos brasileiros que, na juventude, participou da resistência armada à ditadura militar instaurada em 1964. Em 1969 foi protagonista do primeiro sequestro de um diplomata estrangeiro — ninguém menos que o embaixador dos Estados Unidos — usado para a libertação de presos políticos. O que o fez abraçar essa opção?

 

CB — A ditadura não nos retirou apenas as liberdades e instituiu a tortura e o assassinato de opositores políticos. Fez mais do que isso. Manteve e aprofundou a exclusão social. Os espaços para o exercício da oposição por vias democráticas eram limitados. Claro que isso não significa que pegar em armas naquele momento tenha sido uma opção acertada do ponto de vista político. Não foi. Mas não por falta de legitimidade. A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece o direito à revolta contra a opressão. Mas a autocrítica que faço por ter participado da guerrilha se deve ao fato de que, naquelas circunstâncias, ela não seria eficaz para promover as mudanças que boa parte da sociedade desejava. Mas foi justificada e aceitável do ponto de vista ético. Vale, inclusive, lembrar os exemplos da Revolução Cubana, da resistência nos países ocupados pelo nazismo e da luta do povo vietnamita contra a agressão norte-americana. 

 

RFA — Você pagou um preço alto por sua participação na resistência à ditadura. Ainda jovem, teve que viver na clandestinidade. Foi preso e torturado. Viveu exilado, banido do País, durante dez anos. Hoje, mais de cinco décadas depois, como você avalia a aquela opção pela guerrilha?

 

CB — Não me arrependo da opção pela militância política. Pelo contrário: me orgulho de ter feito parte de uma geração que, arriscando a vida, se jogou de cabeça na luta pela democracia e pela justiça social. Quando perguntado se faria tudo de novo, costumo responder que sim, ainda que de forma diferente. Lutar por ideais é uma das formas de uma pessoa ser feliz. E uma das formas mais dignas. Não me considero uma vítima.

 

RFA — Que balanço você faria da democracia no Brasil? O que nos falta consolidar? Como é possível falar em democracia plena num país com tantas desigualdades sociais e regionais?

 

CB — Nos falta consolidar muita coisa. As chagas sociais limitam enormemente uma democracia substantiva. Se você sair à rua agora, vai encontrar famílias inteiras dormindo embaixo de marquises, muitas delas sem ter comido hoje e sem saber se comerão amanhã. Que condições tem essa gente de exercer plenamente a cidadania?

Ficha técnica do livro

 

Democracia Sempre

Autor: Cid Benjamin

Formato: 15,6 x 23cm

Preço: R$64,00 físico | R$36,00 e-book

Págs.: 160

ISBN: 978-65-5647-164-8

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Telefone: +55 11 3256-4444



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