trechos
“Por sua vez, a relativa autonomia das instituições, da política e dos movimentos sociais diante das pressões econômicas estruturais merece ser mais discutida. O argumento de Piketty se baseia em uma teoria bastante determinista do futuro: os ricos manipularão o sistema a fim de manter a taxa de lucro em 5%, seja qual for a dimensão alcançada por suas fortunas. Piketty não explora com a devida atenção o papel das forças não econômicas. Muito embora incentive o leitor a levar em consideração o que as outras ciências sociais têm a dizer sobre elas, o fato é que, no limite, seu argumento está assentado nas dinâmicas econômicas simples da acumulação de patrimônio e da desigualdade no contexto de uma taxa de lucro saudável e relativamente estável.” [os organizadores, p. 25]
“Uma vez publicado o livro [O capital do século XXI], Thomas Piketty não assumiu o papel do profeta soturno que vaticina o aumento inescapável da desigualdade e recomenda resignação. Pelo contrário, ele abraçou o papel de intelectual público de renome. E a mensagem que ele leva para os quatro cantos do mundo não é a do cronista passivo de um destino inevitável. Se prestarmos atenção nas ações de Piketty — mais do que em seus escritos —, veremos com clareza que ele acredita que nós podemos, coletivamente, construir nosso próprio destino, ainda que as coisas não sejam como ele, ou nós, gostaríamos que fossem.” [os organizadores, p. 35]
“A desigualdade de renda nos Estados Unidos e em outros lugares tem se agravado desde a década de 1970. O mais impressionante aspecto foi o aumento da diferença entre os ricos e os demais. Essa nefasta tendência antidemocrática finalmente alcançou a consciência do público e o discurso político. Uma política racional e eficiente para lidar com o problema — se é que tem de haver uma — deve se basear em uma compreensão das causas da desigualdade crescente. Até agora, a discussão apontou um grande número de fatores causais: a erosão do salário mínimo real; a decadência dos sindicatos e dos dissídios coletivos; a globalização e competição mais acirrada dos trabalhadores de baixa renda nos países pobres; mudanças tecnológicas e alterações no perfil da demanda que eliminam empregos de nível médio e deixam o mercado de trabalho polarizado entre os mais instruídos e qualificados, no alto, e a massa dos trabalhadores sem qualificação, embaixo.” [Robert M. Solow, prêmio Nobel de Economia de 1987, p. 71]
“Thomas Piketty, professor da École d’économie de Paris, não é de família ilustre, nem um nome conhecido, embora isso deva mudar com a publicação em inglês de O capital no século xxi, sua magnífica e abrangente reflexão sobre a desigualdade. Não obstante, ele tem uma influência profunda. Tornou-se lugar-comum dizer que estamos vivendo uma segunda Idade de Ouro — ou, como Piketty gosta de dizer, uma segunda Belle Époque — definida pela incrível ascensão do ‘1%’. Mas isso só se tornou lugar-comum graças ao trabalho de Piketty. Em especial, ele e seus colegas (principalmente Anthony Atkinson, de Oxford, e Emmanuel Saez, de Berkeley) desenvolveram em primeira mão técnicas estatísticas que permitem retraçar a concentração de renda desde um passado distante — remontando a princípios do século xx, no caso da América e da Grã-Bretanha, e a fins do século xviii, no caso da França. Disso resultou uma revolução em nossa compreensão de tendências de longo prazo para a desigualdade.” [Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia de 2008, p. 85]
“Depois de gastar quinhentas páginas descrevendo as forças que impulsionam o capitalismo em direção à desigualdade inexorável e, em última instância, a insustentáveis taxas lentas de crescimento, Piketty sugere que a melhor solução possível para controlar os efeitos nocivos do capitalismo é um imposto global progressivo sobre o capital, juntamente com altos níveis de transparência financeira. Piketty reconhece que essa é uma ‘ideia utópica’ e defende o incrementalismo. [...] Na prática, a desigualdade econômica gera desigualdades políticas duradouras que lançam uma longa sombra sobre o otimismo de Piketty em relação à viabilidade de um imposto global sobre o capital.” [Elisabeth Jacobs, pp. 673-674]
“Gostaria de ver a obra O capital no século xxi como um trabalho em andamento das ciências sociais, em vez de um tratado sobre história ou economia. Parece-me que se perde muito tempo nas ciências sociais com disputas mesquinhas sobre a delimitação de áreas, geralmente através de posições metodológicas bastante estéreis. Acredito que essas oposições entre disciplinas podem e devem ser superadas, e que a melhor maneira de fazer isso é através da abordagem de grandes questões, para ver até onde podemos levá-las, usando qualquer combinação de métodos e tradições disciplinares que pareça apropriada. Não poderia esperar uma homenagem maior à minha abordagem do que esse conjunto de textos escritos por especialistas de horizontes e perspectivas metodológicas tão diferentes.” [Thomas Piketty, p. 703]
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