Endocrinologista do CEJAM reforça que medicamentos à base de GLP-1 não substituem mudança de hábitos e acompanhamento clínico contínuo
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A expansão do uso das chamadas “canetas emagrecedoras”, como Ozempic e Mounjaro, tem ampliado o debate sobre medicalização, segurança e limites terapêuticos no tratamento da obesidade no Brasil. Impulsionada pela popularidade entre influenciadores e pelo apelo de resultados rápidos, a busca por esses fármacos cresce de forma acelerada, enquanto especialistas reforçam a necessidade de critérios e acompanhamento especializado.
Dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) mostram que a prescrição dessas medicações mais que dobrou nos últimos dois anos. Para profissionais da área, esse movimento revela um descompasso entre o aumento do consumo e a adoção de práticas clínicas adequadas, considerando que a obesidade é uma condição multifatorial que demanda abordagem integrada e sustentada.
A endocrinologista Dra. Patrícia Zach, do Hospital Dia Campo Limpo, unidade gerenciada pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”, em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, explica que a tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, atua simultaneamente nos receptores GIP e GLP-1, contribuindo para controle da glicemia, maior saciedade e melhora de parâmetros metabólicos. O medicamento também retarda o esvaziamento gástrico, favorecendo a redução da ingestão alimentar.
Embora eficazes dentro das indicações estabelecidas, esses fármacos podem provocar efeitos adversos importantes quando utilizados sem supervisão médica ou por pessoas que não se enquadram nos critérios clínicos previstos. Entre os eventos observados, estão náuseas, vômitos, constipação, diarreia, dor de cabeça, reações locais e risco aumentado de pancreatite. A médica também cita reações alérgicas graves, emagrecimento excessivo, queda de cabelo e o efeito sanfona, sobretudo na ausência de mudanças de hábitos.
Dra. Patrícia chama atenção para grupos com maior vulnerabilidade. “Pessoas com histórico de transtornos alimentares podem ter recaídas com o uso desregulado dessas substâncias. A principal preocupação nesses casos é a recidiva de quadros como anorexia”, afirma.
Para a especialista, o uso racional dessas terapias envolve um plano terapêutico contínuo, análise detalhada do histórico clínico e consideração de fatores emocionais e sociais do paciente. “Não existe tratamento milagroso. Cada caso é individual e exige compreensão da dinâmica de vida do paciente”, explica.
Com mais de 22% da população adulta vivendo com obesidade, a médica destaca que esses medicamentos podem ser aliados, mas não substituem estratégias centrais do tratamento, baseadas na mudança sustentável do estilo de vida. “As alternativas prioritárias continuam sendo as modificações de hábitos. Não há sucesso terapêutico sem esse componente, e a atuação de uma equipe multidisciplinar é essencial”, defende.
Ela reforça ainda a necessidade de políticas públicas mais robustas voltadas à prevenção. Para a endocrinologista, iniciativas estruturantes, como estímulo à alimentação saudável e desincentivo ao consumo de alimentos ultraprocessados, são fundamentais para enfrentar o avanço da obesidade no país. “Quando se fala em saúde coletiva, precisamos não só tratar a consequência, que é o aumento do peso, mas tratar a causa. Aqui entra a mudança de hábitos que levam à obesidade, bem como políticas de saúde pública que visem, por exemplo, a redução do preço dos alimentos saudáveis e o aumento do preço de alimentos processados e industrializados, como já acontece no México”, afirma.
Diante de um cenário marcado por desinformação e promessas de resultados imediatos, a orientação profissional permanece, segundo a médica, como o caminho mais seguro. “Obesidade não é falta de vontade. A abordagem deve ser individualizada, baseada em evidências e conduzida com empatia”, conclui.
Sobre o CEJAM
O CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” é uma entidade filantrópica e sem fins lucrativos. Fundada em 1991, a Instituição atua em parceria com o poder público no gerenciamento de serviços e programas de saúde em São Paulo, Rio de Janeiro, Mogi das Cruzes, Campinas, Carapicuíba, Barueri, Franco da Rocha, Guarulhos, Santos, São Roque, Lins, Assis, Ferraz de Vasconcelos, Pariquera-Açu, Itapevi, Peruíbe e São José dos Campos.
A organização faz parte do Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (IBROSS), e tem a missão de ser instrumento transformador da vida das pessoas por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde.
O CEJAM é considerado uma Instituição de excelência no apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS), tendo conquistado, em 2025, a certificação Great Place to Work. O seu nome é uma homenagem ao Dr. João Amorim, médico obstetra e um dos fundadores da Instituição.
No ano de 2025, a organização lança a campanha "365 novos dias de saúde, inovação e solidariedade", reforçando seu compromisso com os princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança).
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