Romance “Amor de Alecrim” continua a história de Amanda, protagonista de "Amor de
Manjericão", e aborda temas como menopausa e independência emocional
Com leveza e humor, a professora e escritora Ana Paula Couto lançou em 2025 o livro
"Amor de Alecrim", sequência de "Amor de Manjericão" (2022). O novo romance mergulha
na vida de Amanda, uma mulher que, aos 50 anos, enfrenta desafios como crise conjugal,
menopausa e a descoberta de novas paixões. A protagonista, que no primeiro livro superou
um divórcio e um affair com um homem mais jovem, agora se depara com a aposentadoria,
os dilemas da maternidade e o reencontro com um amor do passado. Além do
entretenimento, a obra apresenta uma representação de uma personagem mais velha,
discutindo temas como o etarismo e a invisibilidade feminina após os 50 anos.
Natural de Nova Friburgo (RJ), onde ainda reside, Ana Paula Couto é professora de língua
inglesa há mais de duas décadas. Estreou na literatura em 2021, com participações em
antologias como “Diário dos Confinados” (Editora Resilience). Seu primeiro romance, “Amor
de Manjericão” (2022), foi pivô de sua transição para a carreira literária. Desde então,
publicou os e-books “Conto Comigo” (contos) e “Vida Crônica” (crônicas) e participou de
eventos como Flip e Bienais do Livro. Na entrevista abaixo, ela conta mais sobre o
processo de escrita de “Amor de Alecrim”, seu segundo romance.
Quais são os principais temas de “Amor de Alecrim” e como eles dialogam com o
primeiro livro, “Amor de Manjericão”?
Amor de Alecrim é a continuação do meu primeiro livro, Amor de Manjericão, e vem com
temas como relacionamento entre mãe e filha, síndrome do ninho vazio, crise conjugal,
aposentadoria, mudanças nos relacionamentos afetivos, autoconhecimento e
independência emocional, menopausa e mudanças de paradigmas.
Amor de Manjericão é um chick-lit que dá protagonismo a uma mulher 40+ retratando o seu
processo de autoconhecimento e sua trajetória pessoal após uma traição seguida por um
divórcio. A obra enfoca as nuances do universo feminino em que a personagem principal
vivencia situações presentes em nossa sociedade como o etarismo, por exemplo, quando
ela se relaciona com um homem bem mais jovem. Também retrata questões relacionadas à
maternidade.
Escolhi temas e assuntos que, de alguma forma, fossem comuns às mulheres e as
tocassem de alguma forma. Quis trazer um spot ao cotidiano feminino. Sendo assim, Amor
de Alecrim segue o mesmo tracejado do primeiro livro, trazendo, de forma leve e bem-
humorada, a mesma personagem dez anos depois, já casada e cheia de questões inerentes
à essa fase da vida.
Por que você decidiu escrever uma continuação?
Eu já havia pensado, assim que lancei meu primeiro livro, numa possível continuação, mas
não era nada concreto. No entanto, ao lançar Amor de Manjericão, em 2022, recebi muito
incentivo, e até ideias me foram dadas por leitores que me cobraram a continuidade da
história. Em 2023, motivada pelo alcance que o Manjericão teve em tocar as pessoas e
seus pedidos, me lancei na produção da sequência do romance. Escrevi o livro em um ano.
Em 2024 busquei recursos profissionais para o meu segundo livro. Já que me senti mais
preparada e possuía alguma experiência na área, utilizei-me do networking conseguido até
então e submeti o livro à leituras críticas e beta. Esse ano foi todo destinado a lapidar e
lançar o romance.
Que mensagem você espera que as leitoras encontrem nas duas obras?
Os livros trazem assuntos importantes de forma leve e divertida, como um bom chick-lit,
mas também emocionam, tocam e inspiram mulheres. A principal mensagem é a superação
de desafios e o não desistir de si mesmo, a despeito das circunstâncias e das vicissitudes
da vida. Ambas histórias trazem, por meio de uma leitura fluida, o gostinho de se dar a volta
por cima e saborear a esperança. Tudo isso regado aos temperos, manjericão e alecrim,
que de forma lúdica, interferem no destino da personagem Amanda.
Para você, qual o diferencial desta história? Por que ela precisa ser contada?
Creio que o ponto forte de meus livros é abordar temas que refletem a vidas das mulheres
como um todo. E também a questão de trazer personagens 40+ e 50+, fase da vida que se
tem pouca representatividade. Sendo assim, acredito que, mesmo não sendo as
personagens idosas, as histórias trazem luz ao envelhecer e às mudanças na vida das
mulheres, o que acaba discutindo o etarismo.
O que a escrita destes dois livros representa para você, na sua trajetória pessoal e
profissional?
A escrita do primeiro livro me transformou no decorrer de seu processo de criação por ter
sido uma experiência terapêutica, já que trata-se de uma bioficção, mas, majoritariamente,
escrever e lançar esse livro modificou a minha vida como um todo. Foi uma virada de chave
em minha trajetória pessoal e profissional. Em um ano de lançamento me posicionei como
autora de fato, desengavetando projetos. Participei de eventos literários em minha cidade e
fora dela, me engajei em coletivos femininos de escrita e assim dei a largada da minha
carreira como escritora e não parei mais. Percebi essa virada ao ser, agora, reconhecida
como escritora e não mais somente vista como docente.
De que forma suas experiências anteriores com contos, crônicas e o blog Vida
Crônica contribuíram para este segundo romance?
Amor de Manjericão foi meu primeiro romance publicado. No entanto, já havia inúmeros
contos e crônicas meus da época em que eu achava muito ousado me posicionar como
autora, pois, ao meu ver, tratava-se de um hobby. Lancei meu blog “Vida Crônica” no
Wordpress e lá pousava minhas tímidas produções artísticas. O blog ainda existe. Acredito
que todo esse repertório me ajudou a dar corpo ao meu primeiro romance, até ter coragem
para lançá-lo. Amor de Alecrim foi totalmente pautado em Amor de Manjericão.
Como descobriu o chick-lit e por que esse gênero se encaixa tão bem na sua escrita?
Amor de Manjericão e Amor de Alecrim são chick-lits. Quando escrevi o primeiro livro não
conhecia esse gênero, mesmo já tendo consumido histórias que se encaixavam nele. As
histórias, tipicamente femininas e contemporâneas que conto, trazem com força esse estilo
que não escolhi escrever, mas que se enquadrou à minha personalidade e ao meu feeling
literário.
A partir de 2022 comecei a escrever, a partir de um conto, uma bioficção retratando
experiências vividas com a intenção de também relatar vivências das várias mulheres que
passaram pela minha vida. Venho de uma família predominantemente feminina. Essa
história comum, meu primeiro livro, precisava ser contada para tocar as mulheres. Há uma
nítida identificação com as leitoras que se veem retratadas na obra.
Quais são as suas principais influências artísticas e literárias?
Sou leitora desde a adolescência e apreciadora, desde essa época, de Carlos Drummonde
de Andrade e Ferreira Gullar. Mais tarde, durante a minha formação acadêmica, fui
fortemente influenciada pelos clássicos como Machado de Assis, George Orwell,
Skakespeare e afins. No entanto, dissocio totalmente meu estilo literário de alguma
influência específica. Sou um mix das músicas, dos filmes, dos livros e de tudo que absorvi
culturalmente até aqui e exponho isso claramente em minhas histórias. Gosto de dizer que
minha escrita fugiu da academia. Tenho orgulho disso. Apesar do chick-lit ainda ser um
gênero considerado menor para alguns, o que é um ranço do legado da sociedade
patriarcal, me realizo totalmente ao escrever algo contemporâneo direcionado ao público
feminino.
Como você definiria seu estilo literário?
Meus dois romances são chick-lits e se utilizam da estrutura desse gênero que é salientar
histórias sobre mulheres contadas por mulheres para outras mulheres. Minhas tramas fluem
como uma conversa de uma mulher com outras mulheres em que a personagem principal
compartilha o seu cotidiano, os seus pensamentos e as suas questões amorosas,
profissionais e familiares.
Quando a escrita deixou de ser hobby e se tornou profissão?
Comecei a escrever poemas na adolescência, por volta dos 15 anos e sempre mantinha
comigo um caderno de escritos, mas era algo bem orgânico, isento de alguma intenção.
Assim foi por toda a minha vida até a maturidade, em que me mantive escrevendo contos e,
principalmente crônicas, sendo esse meu gênero favorito, sem alguma pretensão e sem me
ver como escritora. Somente após os 50 anos, durante a pandemia, me posicionei como
autora de fato e comecei a me profissionalizar e colocar minhas obras para o público.
Como é sua rotina criativa para escrever?
Não tenho ritual algum de escrita, tampouco estabeleço metas ou faço planejamentos
fechados de capítulos e enredos. Vou produzindo e me organizando durante o processo em
que as ideias vão surgindo. Até pouco tempo atrás considerava esse meu processo meio
avacalhado, pode se dizer assim, mas quando tive a oportunidade de conversar e conhecer
o talentosíssimo autor Francisco Azevedo e o perguntei sobre o seu processo criativo,
desmistifiquei o meu próprio. Francisco, como eu, não planeja seus livros e nem começa a
escrever com tudo determinado. Ele, segundo me disse, começa a escrever e deixa a
história fluir. Foi um alívio ouvir tal relato desse ícone de quem sou muito fã.

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