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sábado, 15 de novembro de 2025

"Amor de Alecrim": escritora Ana Paula Couto fala sobre a importância da representatividade de mulheres 50+ em romance chick-lit

 

Romance “Amor de Alecrim” continua a história de Amanda, protagonista de "Amor de

Manjericão", e aborda temas como menopausa e independência emocional


Com leveza e humor, a professora e escritora Ana Paula Couto lançou em 2025 o livro

"Amor de Alecrim", sequência de "Amor de Manjericão" (2022). O novo romance mergulha

na vida de Amanda, uma mulher que, aos 50 anos, enfrenta desafios como crise conjugal,

menopausa e a descoberta de novas paixões. A protagonista, que no primeiro livro superou

um divórcio e um affair com um homem mais jovem, agora se depara com a aposentadoria,

os dilemas da maternidade e o reencontro com um amor do passado. Além do

entretenimento, a obra apresenta uma representação de uma personagem mais velha,

discutindo temas como o etarismo e a invisibilidade feminina após os 50 anos.

Natural de Nova Friburgo (RJ), onde ainda reside, Ana Paula Couto é professora de língua

inglesa há mais de duas décadas. Estreou na literatura em 2021, com participações em

antologias como “Diário dos Confinados” (Editora Resilience). Seu primeiro romance, “Amor

de Manjericão” (2022), foi pivô de sua transição para a carreira literária. Desde então,

publicou os e-books “Conto Comigo” (contos) e “Vida Crônica” (crônicas) e participou de

eventos como Flip e Bienais do Livro. Na entrevista abaixo, ela conta mais sobre o

processo de escrita de “Amor de Alecrim”, seu segundo romance.


Quais são os principais temas de “Amor de Alecrim” e como eles dialogam com o

primeiro livro, “Amor de Manjericão”?


Amor de Alecrim é a continuação do meu primeiro livro, Amor de Manjericão, e vem com

temas como relacionamento entre mãe e filha, síndrome do ninho vazio, crise conjugal,

aposentadoria, mudanças nos relacionamentos afetivos, autoconhecimento e

independência emocional, menopausa e mudanças de paradigmas.


Amor de Manjericão é um chick-lit que dá protagonismo a uma mulher 40+ retratando o seu

processo de autoconhecimento e sua trajetória pessoal após uma traição seguida por um

divórcio. A obra enfoca as nuances do universo feminino em que a personagem principal


vivencia situações presentes em nossa sociedade como o etarismo, por exemplo, quando

ela se relaciona com um homem bem mais jovem. Também retrata questões relacionadas à

maternidade.


Escolhi temas e assuntos que, de alguma forma, fossem comuns às mulheres e as

tocassem de alguma forma. Quis trazer um spot ao cotidiano feminino. Sendo assim, Amor

de Alecrim segue o mesmo tracejado do primeiro livro, trazendo, de forma leve e bem-

humorada, a mesma personagem dez anos depois, já casada e cheia de questões inerentes

à essa fase da vida.


Por que você decidiu escrever uma continuação?


Eu já havia pensado, assim que lancei meu primeiro livro, numa possível continuação, mas

não era nada concreto. No entanto, ao lançar Amor de Manjericão, em 2022, recebi muito

incentivo, e até ideias me foram dadas por leitores que me cobraram a continuidade da

história. Em 2023, motivada pelo alcance que o Manjericão teve em tocar as pessoas e

seus pedidos, me lancei na produção da sequência do romance. Escrevi o livro em um ano.

Em 2024 busquei recursos profissionais para o meu segundo livro. Já que me senti mais

preparada e possuía alguma experiência na área, utilizei-me do networking conseguido até

então e submeti o livro à leituras críticas e beta. Esse ano foi todo destinado a lapidar e

lançar o romance.


Que mensagem você espera que as leitoras encontrem nas duas obras?

Os livros trazem assuntos importantes de forma leve e divertida, como um bom chick-lit,

mas também emocionam, tocam e inspiram mulheres. A principal mensagem é a superação

de desafios e o não desistir de si mesmo, a despeito das circunstâncias e das vicissitudes

da vida. Ambas histórias trazem, por meio de uma leitura fluida, o gostinho de se dar a volta

por cima e saborear a esperança. Tudo isso regado aos temperos, manjericão e alecrim,

que de forma lúdica, interferem no destino da personagem Amanda.


Para você, qual o diferencial desta história? Por que ela precisa ser contada?


Creio que o ponto forte de meus livros é abordar temas que refletem a vidas das mulheres

como um todo. E também a questão de trazer personagens 40+ e 50+, fase da vida que se

tem pouca representatividade. Sendo assim, acredito que, mesmo não sendo as

personagens idosas, as histórias trazem luz ao envelhecer e às mudanças na vida das

mulheres, o que acaba discutindo o etarismo.

O que a escrita destes dois livros representa para você, na sua trajetória pessoal e

profissional?


A escrita do primeiro livro me transformou no decorrer de seu processo de criação por ter

sido uma experiência terapêutica, já que trata-se de uma bioficção, mas, majoritariamente,

escrever e lançar esse livro modificou a minha vida como um todo. Foi uma virada de chave

em minha trajetória pessoal e profissional. Em um ano de lançamento me posicionei como

autora de fato, desengavetando projetos. Participei de eventos literários em minha cidade e

fora dela, me engajei em coletivos femininos de escrita e assim dei a largada da minha

carreira como escritora e não parei mais. Percebi essa virada ao ser, agora, reconhecida

como escritora e não mais somente vista como docente.


De que forma suas experiências anteriores com contos, crônicas e o blog Vida

Crônica contribuíram para este segundo romance?


Amor de Manjericão foi meu primeiro romance publicado. No entanto, já havia inúmeros

contos e crônicas meus da época em que eu achava muito ousado me posicionar como

autora, pois, ao meu ver, tratava-se de um hobby. Lancei meu blog “Vida Crônica” no

Wordpress e lá pousava minhas tímidas produções artísticas. O blog ainda existe. Acredito

que todo esse repertório me ajudou a dar corpo ao meu primeiro romance, até ter coragem

para lançá-lo. Amor de Alecrim foi totalmente pautado em Amor de Manjericão.


Como descobriu o chick-lit e por que esse gênero se encaixa tão bem na sua escrita?


Amor de Manjericão e Amor de Alecrim são chick-lits. Quando escrevi o primeiro livro não

conhecia esse gênero, mesmo já tendo consumido histórias que se encaixavam nele. As

histórias, tipicamente femininas e contemporâneas que conto, trazem com força esse estilo

que não escolhi escrever, mas que se enquadrou à minha personalidade e ao meu feeling

literário.


A partir de 2022 comecei a escrever, a partir de um conto, uma bioficção retratando

experiências vividas com a intenção de também relatar vivências das várias mulheres que

passaram pela minha vida. Venho de uma família predominantemente feminina. Essa

história comum, meu primeiro livro, precisava ser contada para tocar as mulheres. Há uma

nítida identificação com as leitoras que se veem retratadas na obra.


Quais são as suas principais influências artísticas e literárias?


Sou leitora desde a adolescência e apreciadora, desde essa época, de Carlos Drummonde

de Andrade e Ferreira Gullar. Mais tarde, durante a minha formação acadêmica, fui

fortemente influenciada pelos clássicos como Machado de Assis, George Orwell,

Skakespeare e afins. No entanto, dissocio totalmente meu estilo literário de alguma

influência específica. Sou um mix das músicas, dos filmes, dos livros e de tudo que absorvi

culturalmente até aqui e exponho isso claramente em minhas histórias. Gosto de dizer que

minha escrita fugiu da academia. Tenho orgulho disso. Apesar do chick-lit ainda ser um

gênero considerado menor para alguns, o que é um ranço do legado da sociedade

patriarcal, me realizo totalmente ao escrever algo contemporâneo direcionado ao público

feminino.


Como você definiria seu estilo literário?


Meus dois romances são chick-lits e se utilizam da estrutura desse gênero que é salientar

histórias sobre mulheres contadas por mulheres para outras mulheres. Minhas tramas fluem

como uma conversa de uma mulher com outras mulheres em que a personagem principal

compartilha o seu cotidiano, os seus pensamentos e as suas questões amorosas,

profissionais e familiares.


Quando a escrita deixou de ser hobby e se tornou profissão?


Comecei a escrever poemas na adolescência, por volta dos 15 anos e sempre mantinha

comigo um caderno de escritos, mas era algo bem orgânico, isento de alguma intenção.

Assim foi por toda a minha vida até a maturidade, em que me mantive escrevendo contos e,

principalmente crônicas, sendo esse meu gênero favorito, sem alguma pretensão e sem me


ver como escritora. Somente após os 50 anos, durante a pandemia, me posicionei como

autora de fato e comecei a me profissionalizar e colocar minhas obras para o público.


Como é sua rotina criativa para escrever?

Não tenho ritual algum de escrita, tampouco estabeleço metas ou faço planejamentos

fechados de capítulos e enredos. Vou produzindo e me organizando durante o processo em

que as ideias vão surgindo. Até pouco tempo atrás considerava esse meu processo meio

avacalhado, pode se dizer assim, mas quando tive a oportunidade de conversar e conhecer

o talentosíssimo autor Francisco Azevedo e o perguntei sobre o seu processo criativo,

desmistifiquei o meu próprio. Francisco, como eu, não planeja seus livros e nem começa a

escrever com tudo determinado. Ele, segundo me disse, começa a escrever e deixa a

história fluir. Foi um alívio ouvir tal relato desse ícone de quem sou muito fã.

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