No próximo dia 11/10 será celebrado o Dia Mundial da Obesidade e o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade. A data reforça a importância de encarar o excesso de peso como uma condição de saúde que exige acompanhamento contínuo, diagnóstico correto e estratégias personalizadas. De acordo com especialistas, a obesidade é uma doença crônica, progressiva e multifatorial, que precisa ser tratada com a mesma seriedade de outras condições de longo prazo — e não apenas como uma questão de força de vontade ou estilo de vida.
De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2025 (World Obesity Atlas 2025), da Federação Mundial da Obesidade (World Obesity Federation – WOF), 68% da população brasileira tem excesso de peso e, dessas, 31% tem obesidade e 37% tem sobrepeso. O Atlas traz ainda uma projeção de que o número de homens com obesidade até 2030 pode aumentar em 33,4%. Entre as mulheres, essa porcentagem pode crescer 46,2%.
Pensando em reverter esse quadro, em setembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) abriu uma consulta pública sobre o projeto de diretriz para o uso de medicamentos à base de GLP-1 no tratamento da obesidade em adultos. Esses fármacos, inicialmente desenvolvidos para o controle do diabetes tipo 2, vêm sendo estudados por seu potencial de ajudar no controle de peso de forma segura, quando usados dentro de protocolos clínicos e com acompanhamento médico.
Quem realmente precisa de remédio para emagrecer?
Segundo a endocrinologista Dra. Karine Antunes, médica do Studio Gorga Bem-Estar, esses medicamentos são voltados para casos de obesidade crônica, quando o paciente apresenta IMC a partir de 30, ou quando há excesso de peso associado a doenças relacionadas, como hipertensão, diabetes e apneia do sono. “Não se trata de falta de força de vontade. A obesidade tem componentes genéticos, hormonais e ambientais. Além disso, muitos pacientes já tentaram outras estratégias sem sucesso. O medicamento pode ser um aliado importante para quebrar esse ciclo”, explica.
No Brasil, as medicações à base de GLP-1 mais conhecidas são: a semaglutida (com nomes comerciais como Ozempic®, Rybelsus® e Wegovy®), a liraglutida (comercializada como Victoza®, Saxenda®, e as versões genéricas brasileiras Olire® e Lirux®) e a tirzepatida (comercializada como Mounjaro®).
Quais doenças o obeso crônico pode desenvolver?
O excesso de peso mantido por anos aumenta o risco de complicações cardiovasculares, diabetes tipo 2, alguns tipos de câncer, apneia do sono e doenças ortopédicas. Para a especialista, é preciso reforçar que a obesidade está entre as principais causas evitáveis de adoecimento e morte no mundo, com impacto direto não apenas na estética, mas na saúde integral e na expectativa de vida.
O que significa falar em tratamento de longo prazo?
A principal diferença em relação à forma como muitos enxergam os medicamentos para emagrecimento é que o uso não deve ser episódico. A Dra. Karine destaca que o tratamento é de longo prazo, com início, meio e fim bem planejados: “Ele exige acompanhamento médico contínuo e mudanças no estilo de vida, envolvendo alimentação equilibrada, sono de qualidade e prática regular de atividade física”, orienta.
A médica acrescenta que o desmame da medicação depende de cada caso. “Em alguns pacientes, é possível reduzir ou até suspender o uso após um período de estabilização; enquanto em outros casos, o uso pode ser contínuo ao longo da vida, da mesma forma como acontece com pacientes com hipertensão ou diabetes, sempre com ajustes nas doses e reavaliações periódicas”, completa.
Vale a pena ter medicamentos GLP-1 no SUS?
No Brasil, esse movimento também levanta a discussão sobre o acesso aos medicamentos agonistas de GLP-1 no Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, eles estão disponíveis apenas no setor privado e a preços elevados. “Reconsiderar essa inclusão no SUS teria impacto enorme. Estamos falando de milhões de brasileiros que convivem com a obesidade e de complicações que sobrecarregam hospitais e clínicas. Investir em tratamento adequado é investir em prevenção de longo prazo”, defende a especialista.
O que a decisão da OMS mudará na prática?
Até agora, as principais estratégias para o controle da obesidade giravam em torno de dieta, exercícios e mudanças de comportamento. Esses pilares continuam centrais, mas os especialistas da OMS apontam que, em muitos casos, eles não são suficientes para conter uma doença que já afeta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e está relacionada a milhões de mortes evitáveis todos os anos.
Para a Dra. Karine Antunes, a mensagem é clara: a luta contra a obesidade precisa ser encarada com seriedade, ciência, ética e cuidado contínuo. “Quando a OMS reconhece a obesidade como uma doença crônica e recomenda o uso dos medicamentos GLP-1, isso ajuda a mudar a mentalidade: não é questão de estética ou de falta de força de vontade, mas de saúde”, reforça a médica. Embora as diretrizes ainda sejam preliminares e voltadas a adultos, o impacto simbólico é relevante.
A endocrinologista afirma que ao colocar a obesidade no mesmo patamar de doenças crônicas como hipertensão e diabetes, a entidade contribui para reduzir o estigma e reforça o olhar de saúde pública. “Esses remédios não substituem hábitos saudáveis, mas podem ser um aliado fundamental para quebrar o ciclo da obesidade e evitar complicações graves. Para mim, será um avanço importante — inclusive para discutirmos acesso no Brasil, porque tratar obesidade é também prevenir doenças cardiovasculares, diabetes e câncer”, finaliza.
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