Durante o período de férias escolares, crianças e adolescentes ganham mais tempo livre, e, com isso, passam mais tempo conectados, muitas vezes sem a supervisão adequada. Em meio às brincadeiras digitais, festas do pijama e viagens com amigos ou parentes, aumentam os riscos relacionados à exposição precoce a conteúdos inadequados, agressões, abusos e hiperconectividade. Para lidar com esse cenário, pais e responsáveis precisam reforçar a presença ativa e o cuidado afetivo, como destaca Marcela Jardim (@falaseriotia), educadora física, sexóloga, educadora sexual, psicanalista e professora de Filosofia.
Supervisão afetiva: mais presença, menos punição
Marcela observa, do ponto de vista psicanalítico, que a proposta legislativa em discussão no Senado (PL 2251/2025) que pretende obrigar os pais a supervisionarem o uso da internet por menores de idade, deve ser analisada com cautela. "Qualquer forma de obrigatoriedade imposta de fora pode gerar resistência, especialmente quando falamos da relação entre pais e filhos. Supervisionar não é apenas vigiar, é cuidar com afeto e escuta", afirma.
Ela destaca que a autoridade que acolhe é mais eficaz que a que apenas fiscaliza. O ideal é transformar a supervisão em um espaço de conexão, não de punição. "A internet tem um papel importante na construção da identidade dos jovens. Os adultos precisam estar presentes nesse processo como referências afetivas e éticas".
Privacidade emocional e o papel do cuidado ativo
A especialista defende que é possível supervisionar sem invadir a privacidade emocional do adolescente. Para isso, é fundamental substituir o controle pela presença afetiva. "Autonomia não é abandono. Supervisão é sobre criar um ambiente de confiança, escuta e limites claros. Conversar mais e fiscalizar menos", comenta.
Na visão psicanalítica, a função materna e paterna, exercida por qualquer cuidador, é sustentar esse espaço intermediário entre proteção e liberdade. Essa relação permite que o adolescente se sinta seguro o bastante para pedir ajuda e compartilhar o que vive no mundo online.
Pornografia não é educação sexual
Como educadora sexual, Marcela alerta para os riscos da exposição precoce à pornografia e a conteúdos hipersexualizados nas redes. "A pornografia não foi feita para educar. Ela distorce o desejo, desumaniza relações, reforça estereótipos e normaliza a violência. Isso pode ser devastador para adolescentes em formação."
Ela explica que o consumo de pornografia pode gerar ansiedade, culpa, vergonhas, dificuldades com intimidade e comportamentos de risco. Por isso, é fundamental que educadores e famílias falem com clareza, responsabilidade e linguagem adequada sobre corpo, desejo, consentimento e respeito.
Educação sexual é proteção
Marcela é direta: "leis punitivas têm seu lugar, mas chegam tarde. A verdadeira proteção vem da educação sexual desde cedo". Para ela, ensinar crianças a nomear o que sentem, reconhecer situações de risco e confiar nos adultos de referência é a melhor prevenção contra abusos e exposições prejudiciais.
Educação sexual não é sobre incentivar a sexualidade precoce, mas sobre preparar emocionalmente a criança para proteger seu corpo, fazer escolhas com segurança e estabelecer limites. "A punição vem depois do dano. A educação chega antes".
Excesso de telas e impacto no pensamento crítico
No tempo da hiperconectividade, Marcela lembra que o pensamento crítico precisa de pausa, escuta e silêncio. "Com tanto estímulo imediato, perdemos o espaço da elaboração. O cérebro vicia em dopamina rápida: likes, notificações, vídeos curtos. Isso prejudica a atenção, gera ansiedade e dificulta a reflexão".
Ela recomenda criar momentos sem telas, incentivar atividades mais lentas e desenvolver a escuta profunda. "Não é ser contra a tecnologia. É ensinar a usar com consciência".
Consequências físicas: sedentarismo, sono e postura
Como educadora física, Marcela também destaca os efeitos corporais do uso excessivo de telas: sedentarismo, aumento do sobrepeso infantil, distúrbios do sono e problemas posturais. "Crianças deixam de explorar o corpo e o espaço. Dormem mal, não aprendem bem e ficam mais irritadas".
Ela reforça a importância de promover rotinas equilibradas, com movimento, brincadeiras livres e criatividade corporal. "A tecnologia faz parte. Mas o corpo também precisa ser prioridade".
Presença, escuta e educação são os pilares da proteção
A proposta do Senado de obrigar os pais a supervisionar o uso da internet reacende uma discussão necessária: como educar e proteger na era digital? Para Marcela Jardim, a resposta passa por três pilares: presença afetiva, escuta ativa e educação integral. "Supervisionar, sim. Mas com acolhimento, não com medo. A proteção verdadeira nasce da relação".
Em tempos de férias e maior exposição digital, a prevenção passa por conversas abertas, rotinas equilibradas e adultos dispostos a orientar, escutar e proteger com empatia.
REFERÊNCIA:
https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2025/05/30/proposta-quer-obrigar-pais-a-supervisionarem-o-uso-da-internet-por-criancas-e-adolescentes
FONTE:
Marcela Jardim (@falaseriotia), educadora física, sexóloga, educadora sexual, psicanalista e professora de Filosofia.
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