Versão brasileira para a peça do celebrado autor inglês Philip Ridley é estrelada por Maria Eduarda de Carvalho e Rui Ricardo Diaz, com múltiplas contribuições do ator e músico Marco França
Crédito: Matheus Ramalho
Uma poderosa e ácida crítica social, com humor perspicaz, Vermes Radiantes, do poeta, dramaturgo e roteirista inglês Philip Ridley, ganha uma versão brasileira inédita, dirigida por Alexandre Dal Farra. O espetáculo tem sua temporada de estreia no Sesc Pompeia, de 17 de julho a 10 de agosto, com apresentações de quinta a sábado, às 20h; aos domingos, às 18h, e às sextas, também às 16h.
A peça, protagonizada por Maria Eduarda de Carvalho e Rui Ricardo Diaz, com múltiplas contribuições do ator e músico Marco França, trata do poder de supressão do outro. Trata do que podemos nos tornar se cooptados pela ideia distorcida de ascensão, colocando em xeque até onde estamos dispostos a seguir para realizar os nossos mais ínfimos desejos.
A partir da aldeia onde sobrevivem nossos protagonistas, a montagem convida o espectador a um exercício estranho, que diverte, mas também aterroriza: refletir sobre a ideia do humano transformado em matéria de ascensão, mediante ao sacrifício ou aniquilamento do outro.
Vermes Radiantes por Alexandre dal Farra:
“Alguns anos atrás, talvez uma ou duas décadas, o tema da gentrificação se tornou um assunto recorrente no teatro brasileiro - mas não apenas nele, na sociologia e na arquitetura também.
A construção da Sala São Paulo - teatro de concertos de nível internacional, no coração do centro da cidade, em meio a uma estação de trem e no meio de um território da cidade completamente "degradado" (leia-se, ocupado por populações desfavorecidas) - e o uso desses aparelhos de cultura como meio para revitalizar o centro, em projetos como o famigerado Centro Vivo, virou objeto de teses e estudos importantes no início dos anos 2000.
Muito se teorizou sobre a função da cultura como ponta de lança nesse tipo de processo. Otília Arantes e Mariana Fix são dois nomes que abordaram este assunto: sobre como sobre como a cultura é a primeira a chegar para abrir espaço para as classes médias começarem a ocupar ruas antes ocupadas por pessoas de classe baixa, que fomentavam a abertura de restaurantes, que faziam pessoas de classe média se mudarem para a região, que aumentavam o preço dos imóveis, e assim por diante.
Esse processo, chamado gentrificação, que alterava em questão de poucos anos regiões inteiras da cidade e fazia com que populações inteiras fossem mais e mais deslocadas para as franjas da cidade, era assunto frequente de conversas, papers, peças de teatro e mesmo filmes daqueles anos.
Como ocorre com frequência, o conceito, depois de abordado, foi largamente utilizado e, depois de alguns anos - no máximo uma década - simplesmente saiu de moda.
O processo que ele descrevia, no entanto, não só não deixou de acontecer como continuou se radicalizando mais e mais. A gentrificação na cidade de São Paulo e no mundo desde então só fez crescer em progressão geométrica, bairros inteiros sendo completamente transformados, a quase totalidade de seus moradores sendo substituídos - Vila Madalena, Santa Cecília, mais recentemente Barra Funda e Bom Retiro - e no entanto, simplesmente deixamos de falar nisso, porque o conceito saiu de moda.
Hoje, talvez, vivamos no momento de maior intensidade e brutalidade desse processo, não só no Brasil, mas no mundo. É nesse contexto que se torna fundamental uma obra como Vermes Radiantes, que explicita com imensa precisão e ironia mordaz ao extremo os meandros dessa lógica voraz e assassina - algo que, numa cidade como São Paulo, é o nosso pão de cada dia. Mas Ridley não faz só isso. Seus personagens, fazendo a roda viva da autorreprodução do capital girar, e sendo girados por ela, desdobram também a linguagem, e a fazem girar na espiral louca e impossível do capital que é louco e enlouquece, e que não acaba.
Nessa festa potencialmente infinita, entramos em contato com as entranhas mais brutalmente expostas de uma lógica que não sabe acabar - e que acaba, agora, em tempo real, com o mundo.”
Sinopse
Jill e Ollie querem contar para vocês sobre a casa dos sonhos - ou melhor, sobre como eles conseguiram a casa dos sonhos. Algumas coisas que eles fizeram para isso talvez não tenham sido legais. Tem gente que vai dizer que foram até mesmo chocantes. Mas eles vão explicar. Vocês vão entender. Vocês PRECISAM entender. Escutem a história e me digam: Vocês não fariam o mesmo?
Ficha Técnica
Autor: Philip Ridley
Tradução: Diego Teza
Direção: Alexandre Dal Farra
Elenco: Rui Ricardo Diaz, Maria Eduarda de Carvalho e Marco França
Idealização: Rui Ricardo Diaz e Maria Eduarda de Carvalho
Iluminação, Preparação de Elenco e Assistência de Direção: Lucas Brandão
Cenografia: Stéphanie Fretin e Camila Refinetti
Figurino: João Marcos de Almeida
Direção Musical: Marco França
Direção de Produção: Bia Goldenberg
Fotografia e Projeto Gráfico: Matheus Ramalho
Técnico e Operador de Som: Alexandre Martins
Assistência de Figurino e costureira: Daiane Martins
Cenotécnicos: Wanderley Wagner e Fernando Zimolo
Intérprete de Libras: Wesley Leal
Produção: Raiz de Oito, Quincas, Nem Freud Explica
Serviço
Vermes Radiantes, de Philip Ridley. Tradução: Diego Teza
Temporada: 17 de julho a 10 de agosto
De quinta-feira a sábado, às 20h, e aos domingos, às 18h*
*Há também sessão vespertina às sextas-feiras, às 16h
Sesc Pompeia - Teatro - Rua Clélia, 93 - Água Branca, São Paulo
Ingressos: R$ 60 (inteira), R$30 (meia-entrada) e R$18 (credencial plena)
Vendas online em sescsp.org.br/pompeia
Classificação: 16 anos
Duração: 90 minutos
Acessibilidade: Teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.
Sessões com tradução em Libras aos domingos.
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