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sexta-feira, 16 de maio de 2025

Quais são os impactos positivos da atualização da NR-1 para os trabalhadores?

 



Agora com foco também nos riscos psicossociais, a nova redação da norma busca fortalecer a saúde mental no trabalho e começa a valer este ano de forma educativa


No ano de 2024, o Brasil registrou o maior número de afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão em 10 anos, com mais de 470 mil trabalhadores impossibilitados de trabalhar. Os dados são do Ministério da Previdência Social e refletem uma realidade que pode estar próxima de ter uma mudança significativa. Isso porque, a partir de 26 maio, entra em vigor uma atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece diretrizes gerais sobre saúde e segurança no trabalho.


A inclusão dos fatores de risco psicossociais no ambiente de trabalho, por meio do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), entrará em vigor em 26 de maio apenas em caráter educativo e orientativo. O objetivo é dar tempo para que as empresas se adaptem à nova exigência antes do início da fiscalização oficial, prevista para maio de 2026. A partir dessa data, o descumprimento poderá resultar em multas de até R$ 6 mil. A norma define como riscos psicossociais situações como metas abusivas, assédio moral, jornadas exaustivas, falta de apoio da organização, conflitos entre colegas e condições precárias de trabalho.


Por que a atualização da NR-1 é importante para os trabalhadores

Segundo Rennan Vilar, diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional, para os trabalhadores, a atualização da norma significa uma conquista importante no que diz respeito à qualidade de vida profissional e à valorização do bem-estar emocional no dia a dia das empresas. “A nova NR-1 coloca a saúde mental no mesmo patamar da segurança física no ambiente de trabalho. Isso é um divisor de águas na forma como o mercado deve lidar com as pessoas”, afirma Vilar.


Para o especialista, ao reforçar a responsabilidade das empresas com a saúde mental, a NR-1 garantirá mais segurança, dignidade e respeito no ambiente de trabalho. Se levada a sério, a nova redação da norma pode gerar impactos positivos para os trabalhadores como:


  • Redução de riscos de burnout, estresse e ansiedade;
  • Ambientes mais acolhedores e empáticos;
  • Maior abertura para falar sobre saúde emocional;
  • Prevenção de práticas abusivas e adoecedoras;
  • Mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional.


De acordo com Vilar, a expectativa é que, com a implementação da nova NR-1, mesmo na fase educativa, as empresas se tornem aliadas na construção de uma sociedade mais saudável, justa e humanizada. “A partir de maio, as empresas terão de parar de negligenciar a saúde mental do colaborador e se preparar para tratar o assunto com mais prioridade”, endossa.


O que muda com a nova NR-1 na prática

Neste ano, a norma estabelecerá orientações para que todas as empresas, independentemente do porte ou setor, passem a considerar os riscos psicossociais nas suas análises e planos de prevenção. Isso impacta diretamente a forma como o RH atua dentro das organizações. Segundo Rennan, entre os principais impactos da atualização, destacam-se:

  • Inclusão de fatores psicossociais nas avaliações de risco ocupacional;
  • Capacitação dos colaboradores com foco em saúde mental, integrando esse tema aos treinamentos de segurança;
  • Promoção de uma cultura organizacional mais saudável e segura, com práticas que previnam assédio, discriminação e sobrecarga.
  • Em 2026: responsabilização mais clara das empresas em casos de adoecimento psicológico relacionado ao ambiente de trabalho;

Segundo Vilar, essa nova abordagem exige que o setor de Recursos Humanos deixe de ser apenas operacional e passe a ter papel mais ativo na construção de ambientes emocionalmente seguros, mais alinhado às práticas de Pessoas e Cultura. “Estamos falando de uma mudança estrutural, que exige escuta ativa, revisão de processos e o engajamento da liderança em todos os níveis. O RH precisa atuar como agente de transformação cultural”, defende.


Como identificar e prevenir riscos à saúde mental no trabalho

Um dos maiores desafios das empresas é identificar sinais de adoecimento mental antes que eles evoluam para quadros mais graves. De acordo com Vilar, essa prevenção começa com a criação de um ambiente de confiança e acolhimento. “Mapear riscos psicossociais é muito mais do que aplicar uma pesquisa de clima. É preciso observar comportamentos, mudanças de humor, queda de produtividade e sinais de desconexão. E, principalmente, ter canais seguros para que as pessoas possam relatar o que estão sentindo”, explica o diretor.


Para Vilar, algumas ações no âmbito de sensibilização e conscientização sobre o assunto, para além dos trâmites burocráticos, podem ser rodas de conversa com equipes multidisciplinares, escuta ativa com profissionais de saúde mental, treinamentos sobre inteligência emocional e empatia, acompanhamento próximo da jornada dos colaboradores e avaliação contínua do clima organizacional.


Cultura organizacional precisa se adaptar à nova realidade

Além de ações pontuais, a atualização da NR-1 exige uma reavaliação profunda da cultura das empresas. Práticas que antes eram normalizadas, como longas jornadas, metas inatingíveis e ambientes de alta competitividade, agora são entendidas como potenciais causadoras de danos à saúde mental. “É fundamental que as empresas revejam suas políticas internas e entendam que produtividade não pode ser conquistada à custa do adoecimento. Precisamos estimular relações de trabalho baseadas em confiança, colaboração e respeito aos limites individuais”, destaca Vilar. O especialista ressalta ainda que o papel das lideranças é central nesse processo. “O exemplo vem de cima. Líderes precisam ser preparados para identificar sinais de alerta e conduzir conversas difíceis com responsabilidade emocional”, afirma.


Segundo o profissional, não é mais aceitável delegar o cuidado com a saúde mental como se fosse uma pauta exclusiva do RH ou tentar resolver questões profundas com soluções superficiais. “Com a nova NR-1, as empresas são chamadas a encarar de frente os fatores que contribuem para o adoecimento dos colaboradores. E, em muitos casos, esses fatores estão enraizados na própria cultura organizacional”. Para Vilar, é tempo de repensar:


  1. Estilos de liderança que operam pelo medo e pela intimidação;
  2. Práticas que exaltam a sobrecarga como se fosse sinônimo de comprometimento;
  3. Contextos em que o silêncio diante do sofrimento é a regra;
  4. Posturas autoritárias disfarçadas de gestão firme.


Mais saúde, mais produtividade

Embora a nova NR-1 traga apenas orientações, ela também representa uma oportunidade estratégica para as empresas que desejam se destacar pela valorização de seus talentos. Colaboradores mais saudáveis, emocionalmente equilibrados e bem cuidados tendem a apresentar maior engajamento, menor rotatividade e melhores resultados.


“Essa mudança na NR-1 vem nos lembrar que cuidar das pessoas não é apenas uma questão ética, mas também inteligência do ponto de vista organizacional. Saúde mental é produtividade, é retenção de talentos, é diferencial competitivo”, conclui Vilar.

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