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terça-feira, 6 de maio de 2025

Em “Mariposas não voam longe”, Lu Rodrigues apresenta personagens femininas marcadas pela inadequação às imposições patriarcais

 

Publicada pela editora Litteralux, a obra reúne quinze contos que transitam entre Brasil e Portugal e diferentes realidades de mulheres  

“Os contos de Lu Rodrigues partem de temas como solidão, deslocamento e o não pertencimento para falar sobre a vida de mulheres que nunca se adequaram.”

Quarta capa assinada pela escritora Fabiane Guimarães

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“Mariposas não voam longe”, segundo livro da jornalista Lu Rodrigues (@lurodriguesescritora), aborda, a partir de personagens femininas muito diferentes entre si, a inadequação, a angústia e o não-pertencimento que as imposições patriarcais fomentam em mulheres. Publicada pela editora Litteralux (116 págs.), a coletânea de contos conta com blurbs das escritoras Fabiane Guimarães e Ana Holanda na quarta capa.

 

Composta por quinze histórias divididas em três seções, a obra mergulha na subjetividade de personagens que buscam romper com a angústia que as opressões infligem em suas vidas da infância à velhice. Ao trazer esses dramas à tona, a escritora alcança um tom coletivo e político que aproxima o eu e o ela a um nós composto por mulheres que vivem, viveram ou testemunharam alguém viver experiências parecidas.

 

A fim de dar maior profundidade ao seu trabalho literário, a autora fez um estudo de arquétipos femininos de deusas e, a partir disso, definiu que o esqueleto de sua coletânea seria criado de acordo com o arquétipo da deusa das bruxas, Hécate: “A estrutura do livro tem três partes: a primeira parte são as donzelas, que representam a juventude, as novas possibilidades. A segunda parte chama-se mulheres-mães, porque traz a mulher adulta, seu poder, proteção e maturidade”, explica Lu. “E a terceira parte são as bruxas, as mulheres mais velhas que são repletas de sabedoria e se deparam com as questões de morte e transformação”, completa.


“Mariposas não voam longe” transita entre Brasil e Portugal e diferentes realidades, além de abordar temas como a descoberta do corpo, a ancestralidade, a maternidade e o envelhecimento. As personagens criadas por Lu Rodrigues têm em comum uma sensação de inadequação que as lançam em buscas, internas e/ou externas, de sentido. “São como mariposas que voam à procura de conexão, mesmo correndo o risco de se perderem", como ressalta trecho da sinopse.

Se culturalmente existe uma expectativa de que a casa, a intimidade e o corpo guardem tudo que acontece com o gênero feminino, Lu subverte isso ao tornar essas personagens protagonistas de suas próprias histórias. “Escrevo sobre um sistema que segrega as mulheres na sociedade, no mercado de trabalho e nos espaços de poder. Todas sofrem, mas escrevo também sobre as mulheres pobres, pretas e imigrantes, as que estão na base dessa pirâmide de opressão e nunca podemos nos esquecer disso”, reflete.

 

Nesse sentido, a imigração ganha contornos importantes na obra, fazendo com que a história dessas mulheres tracem um paralelo com a história do Brasil e de Portugal. Mesmo as personagens que não são imigrantes se deslocam e se sentem deslocadas perante as descobertas do mundo patriarcal. Tanto a imigração quanto a sensação de deslocamento não ficam contidas na dualidade de Brasil e Portugal e nas relações de poder entre homens e mulheres, Lu Rodrigues trabalha a contradição desses mundos e seus diversos tons de cinza ao expor o racismo de mulheres brancas, por exemplo. Além disso, a obra reflete a busca pessoal da autora pela ancestralidade e o desejo de compreender a própria identidade e conhecer a história das mulheres de sua família.

 

Segundo Lu, a escrita do seu livro trouxe grandes aprendizados para ela como autora e mulher, porque a fez refletir sobre sua própria solidão na infância e na maternidade, além de tê-la ajudado a perceber como esse sentimento se acentuou depois que ela mudou de país. “É muito difícil a gente se sentir parte de uma sociedade que nos exclui desde a infância até o envelhecer. Muitas de nós iremos sentir essa solidão e talvez buscar um espaço que faça sentido, para escapar desse voo em espiral das mariposas, que nunca leva a lugar algum”, pondera.

 

Lu Rodrigues, mulher em deslocamento

 

Lu Rodrigues nasceu em São Paulo e hoje mora em Lisboa, Portugal. É escritora, jornalista e mãe do Rafael e da Clara. Trabalhou por duas décadas em emissoras de TV brasileiras, como Rede TV!, Band e Record TV. Em 2017, decidiu dar uma pausa no jornalismo para aprender a ser mãe e se reencontrar na escrita. Desde então, escreve sobre maternidade, feminismo e autocuidado nas redes sociais - e fora delas também.

 

Em 2023, lançou seu primeiro livro, “Maternidade com autoamor” e agora estreia na ficção com a coletânea de contos “Mariposas não voam longe” (Litteralux, 2025). Além de manter uma newsletter, a “Cartas da Lu”, sobre sua rotina em Lisboa, escrita e criatividade na plataforma Substack.

 

A autora escreve desde a infância, tendo flertado com a poesia durante a adolescência e visto a vida adulta chegar, com todas as suas obrigações e expectativas, a afastando da escrita literária. Seu retorno para a escrita literária se deu a partir da maternidade. “Veio a vontade de escrever para traduzir meus sentimentos em palavras”, compartilha. Esse retorno aconteceu inicialmente tendo como foco uma escrita mais terapêutica, mas em 2020, após lançar um projeto virtual de escrita, passou a se enxergar mais como escritora do que como jornalista.    

 

Suas referências artísticas são, por escolha política, femininas. Sua estante dá destaque às obras de Elena Ferrante, Mariana Enriquez, Dolores Reyes, Camila Sosa Villada, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Paulinny Tort.

 

“De alguns anos pra cá, eu tomei a resolução de ler e apreciar preferencialmente a arte de mulheres. Assim como outras escritoras, percebi o quanto a nossa formação intelectual vem de conteúdo produzido por homens. Também tinha vontade de conhecer mais as mulheres vivas que estão hoje fazendo arte. Por isso, estou em meio a uma longa pesquisa de autoras contemporâneas”, resume.

 

Esse interesse se reflete no próprio percurso de escrita e desenvolvimento de seu livro mais recente, “Mariposas não voam longe”. Ele surgiu de contos produzidos na comunidade de escrita da professora e escritora Ana Holanda, foi trabalhado junto da também escritora Nara Vidal durante acompanhamento literário e várias das técnicas utilizadas nos contos da obra vieram de ensinamentos de Fabiane Guimarães, outra autora reconhecida.


Entre seus projetos atuais e futuros destaca-se a medição de clubes do livro para mulheres e seu início como mentora e facilitadora de oficinas de escrita. Já sua próxima meta literária é escrever um romance.


 

Confira um trecho do conto “Caçadora” (pg. 55):

 

“O vento trazia o cheiro do mar e fazia sua roupa esvoaçar. Aquele momento guardava a promessa de algo novo, nada estava ali em vão. Parou na beira da água, sentiu as ondas molhando a barra da calça. Olhou para o horizonte em busca de respostas que pareciam tão distantes quanto a linha entre o céu e o oceano. Sabia que seu corpo tinha guardado na pele os vestígios do fogo. Ela precisava redescobri-lo, mas ainda não tinha coragem de romper com o que a prendia. Até quando?, sussurrou para o mar. Talvez o mar não tivesse a resposta, porém algo dentro dela começou a se agitar com as ondas que se desfaziam aos seus pés.”

FICHA TÉCNICA

Livro: Mariposas não voam longe

Autora: Lu Rodrigues

Rede social da autora: @lurodriguesescritora

Site: lurodriguesescritora.com

Número de páginas: 116

ISBN: 978-65-83205-65-0

Gênero: Contos

Editora: Litteralux

Ano: 2025

Adquira o livro no site da editora: https://www.editoralitteralux.com.br/loja/mariposas-nao-voam-longe


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