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quinta-feira, 15 de maio de 2025

CPI das Bets: quem influencia mais — os influenciadores digitais ou os transtornos emocionais?

 

Psicóloga Danny Silva analisa os bastidores psíquicos do vício em jogos e levanta questões que vão além da influência das redes sociais

A recente repercussão envolvendo a influenciadora digital Virginia Fonseca e a CPI das Bets reacendeu um debate nacional: afinal, quem realmente influencia as pessoas a se envolverem com os jogos de azar? A culpa é dos influenciadores ou existe algo mais profundo por trás dessa compulsão silenciosa?

A psicóloga Danny Silva, especialista em comportamento humano e saúde emocional, traz à tona uma perspectiva pouco debatida no noticiário: a ligação direta entre transtornos emocionais, disfunções cerebrais e a dependência em jogos.

“Quando alguém aposta e ganha, mesmo que pouco, o cérebro libera dopamina — o neurotransmissor do prazer. Isso ativa o circuito de recompensa imediata, o mesmo envolvido em vícios como drogas e álcool. O cérebro entra em estado de compulsão, como se estivesse hipnotizado. A pessoa perde a capacidade racional de parar”, explica a profissional.



O jogo como anestésico emocional

Segundo Danny, muitas pessoas não jogam apenas por diversão, mas para fugir de dores emocionais profundas. Traumas não resolvidos, sentimentos de solidão ou frustração e até mesmo um senso de vazio existencial podem levar o indivíduo a buscar refúgio nas apostas, que oferecem uma sensação instantânea de alívio e excitação.

O cérebro, nesse processo, ativa o sistema límbico (das emoções) e desativa o córtex pré-frontal, que é responsável pelo pensamento lógico e tomada de decisões.

Além disso, a psicóloga aponta o chamado “viés de otimismo ilusório” como outro elemento perigoso:

“A pessoa acredita que com ela será diferente, que vai recuperar o que perdeu, ou que ‘na próxima ela acerta’. Esse pensamento irracional alimenta o vício e pode levar a grandes perdas — financeiras, emocionais e até familiares”.



Transtorno do Jogo: quando a diversão vira doença

A psicologia classifica esse vício como Transtorno do Jogo (ou Jogo Patológico), incluído no DSM-5 (manual de transtornos mentais). Entre os sintomas estão:

  • Preocupação constante com apostas;
  • Necessidade crescente de apostar valores maiores para obter a mesma emoção;
  • Irritabilidade ao tentar parar;
  • Mentiras para esconder o comportamento;
  • Danos a relacionamentos, finanças e carreira.


Quem está mais vulnerável?

Danny aponta fatores de risco que facilitam o desenvolvimento desse vício:

  • Impulsividade acentuada desde a infância;
  • Histórico familiar de vícios (álcool, drogas, jogos);
  • Dificuldade de lidar com frustrações;
  • Necessidade constante de estímulo ou adrenalina;
  • Uso do jogo como fuga emocional (depressão, ansiedade, luto, rejeição).


Como tratar o vício em jogos de azar?

De acordo com a psicóloga, o tratamento é multidisciplinar e requer abordagem ampla:

  1. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) – reestrutura padrões de pensamento e identifica gatilhos de recaída.
  2. Terapia Sistêmica Familiar – compreende o contexto emocional e os traumas que alimentam o vício.
  3. Grupos de apoio, como Jogadores Anônimos.
  4. Intervenções espirituais e existenciais, com foco em propósito e identidade.
  5. Em casos severos, o uso de medicamentos para controle de impulsos pode ser indicado com acompanhamento psiquiátrico.

“O jogo compulsivo muitas vezes caminha junto com depressão, ansiedade, uso de substâncias e até ideação suicida. Precisamos olhar para isso como um problema de saúde pública, e não apenas como um desvio de caráter ou irresponsabilidade”, conclui Danny Silva.

 

 

Sobre Danielle Silva

Danielle Silva é psicóloga e especialista em terapia sistêmica familiar, pós graduada pela (PUC) em TEA, TDAH e inclusão: Saúde, Família e Sociedade. Com uma abordagem humanizada, atua no acompanhamento de famílias e indivíduos, ajudando-os a superar desafios emocionais e comportamentais. Seu trabalho tem impactado a vida de diversos pacientes, promovendo o autoconhecimento e o fortalecimento das relações interpessoais.

  CRP:05/67277 

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