A recente repercussão envolvendo a influenciadora digital Virginia Fonseca e a CPI das Bets reacendeu um debate nacional: afinal, quem realmente influencia as pessoas a se envolverem com os jogos de azar? A culpa é dos influenciadores ou existe algo mais profundo por trás dessa compulsão silenciosa?
A psicóloga Danny Silva, especialista em comportamento humano e saúde emocional, traz à tona uma perspectiva pouco debatida no noticiário: a ligação direta entre transtornos emocionais, disfunções cerebrais e a dependência em jogos.
“Quando alguém aposta e ganha, mesmo que pouco, o cérebro libera dopamina — o neurotransmissor do prazer. Isso ativa o circuito de recompensa imediata, o mesmo envolvido em vícios como drogas e álcool. O cérebro entra em estado de compulsão, como se estivesse hipnotizado. A pessoa perde a capacidade racional de parar”, explica a profissional.
O jogo como anestésico emocional
Segundo Danny, muitas pessoas não jogam apenas por diversão, mas para fugir de dores emocionais profundas. Traumas não resolvidos, sentimentos de solidão ou frustração e até mesmo um senso de vazio existencial podem levar o indivíduo a buscar refúgio nas apostas, que oferecem uma sensação instantânea de alívio e excitação.
O cérebro, nesse processo, ativa o sistema límbico (das emoções) e desativa o córtex pré-frontal, que é responsável pelo pensamento lógico e tomada de decisões.
Além disso, a psicóloga aponta o chamado “viés de otimismo ilusório” como outro elemento perigoso:
“A pessoa acredita que com ela será diferente, que vai recuperar o que perdeu, ou que ‘na próxima ela acerta’. Esse pensamento irracional alimenta o vício e pode levar a grandes perdas — financeiras, emocionais e até familiares”.
Transtorno do Jogo: quando a diversão vira doença
A psicologia classifica esse vício como Transtorno do Jogo (ou Jogo Patológico), incluído no DSM-5 (manual de transtornos mentais). Entre os sintomas estão:
- Preocupação constante com apostas;
- Necessidade crescente de apostar valores maiores para obter a mesma emoção;
- Irritabilidade ao tentar parar;
- Mentiras para esconder o comportamento;
- Danos a relacionamentos, finanças e carreira.
Quem está mais vulnerável?
Danny aponta fatores de risco que facilitam o desenvolvimento desse vício:
- Impulsividade acentuada desde a infância;
- Histórico familiar de vícios (álcool, drogas, jogos);
- Dificuldade de lidar com frustrações;
- Necessidade constante de estímulo ou adrenalina;
- Uso do jogo como fuga emocional (depressão, ansiedade, luto, rejeição).
Como tratar o vício em jogos de azar?
De acordo com a psicóloga, o tratamento é multidisciplinar e requer abordagem ampla:
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) – reestrutura padrões de pensamento e identifica gatilhos de recaída.
- Terapia Sistêmica Familiar – compreende o contexto emocional e os traumas que alimentam o vício.
- Grupos de apoio, como Jogadores Anônimos.
- Intervenções espirituais e existenciais, com foco em propósito e identidade.
- Em casos severos, o uso de medicamentos para controle de impulsos pode ser indicado com acompanhamento psiquiátrico.
“O jogo compulsivo muitas vezes caminha junto com depressão, ansiedade, uso de substâncias e até ideação suicida. Precisamos olhar para isso como um problema de saúde pública, e não apenas como um desvio de caráter ou irresponsabilidade”, conclui Danny Silva.
Um circo e horrores!
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