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quarta-feira, 21 de maio de 2025

Abel Rodríguez e Aycoobo trazem sensibilidade e sabedoria indígenas para a Luisa Strina

 Exposição revela o encontro entre arte, ecologia e mitologia amazônica 

Abel Rodríguez. La maloka con sus frutales, 2023.



O rico patrimônio cultural e natural da Amazônia colombiana é expresso nas trajetórias artísticas entrelaçadas de Abel Rodríguez (1941-2025), em sua primeira exposição póstuma, e seu filho Aycoobo (1967), que apresentam suas obras na Luisa Strina. 

A mostra, com abertura em 22 de maio, traz a visão única de ambos os artistas sobre o mundo natural e espiritual em uma série de pinturas sobre papel e desenhos que traduz as complexas relações entre cultura, ecologia e sabedoria tradicional. A arte de Abel Rodríguez e Aycoobo é um tributo à herança dos povos indígenas da Amazônia e um testemunho da importância de preservar tanto a biodiversidade quanto o conhecimento tradicional. 

Abel Rodríguez 

Abel Rodríguez (Cahuinari, Colômbia, 1941 - Bogotá, Colômbia, 2025), o Don Abel, foi um Nonuya oriundo do Médio Rio Caquetá. Sua obra é enraizada na sabedoria ancestral que herdou desde a infância, em La Chorrera, onde foi educado de forma tradicional, aprendendo sobre a floresta, o xamanismo e a mitologia de seu povo. Ao longo de sua vida, trabalhou com a extração de borracha e mais tarde contribuiu para a criação da área de preservação Resguardo Villazul Nonuya. Abel compartilhou seu vasto conhecimento com cientistas que estudavam a região, criando um corpo de trabalho que documenta as plantas, as estações e os ciclos da floresta amazônica. Após ser forçado a deixar sua terra natal devido à violência de grupos armados, Abel encontrou em Bogotá uma nova forma de expressão através da ilustração, criando desenhos que se tornaram fundamentais para estudos sobre a biodiversidade da floresta. Seu trabalho artístico e científico é reconhecido internacionalmente, tendo integrado a 23ª Bienal de Sydney (2022); a 34ª Bienal de São Paulo (2021) e a Documenta 14 (2017). Seu falecimento recente representa a perda de um artista visionário e guardião da memória amazônica, mas seu legado permanece vivo através de sua obra e do trabalho de seu filho Aycoobo. 

Aycoobo / Wilson Rodríguez 

A prática artística de Aycoobo / Wilson Rodríguez (La Chorrera, Colômbia, 1967), filho de Abel, é profundamente influenciada pelos ensinamentos do pai, sendo um reflexo da conexão com a natureza e da imaginação mítica de seu povo. Seus desenhos não são apenas representações gráficas, mas também mapas cósmicos e polifônicos que buscam condensar saberes ancestrais e pensamentos contemporâneos. A relação de Aycoobo com

o mundo invisível, revelada em suas obras, transcende as noções tradicionais de lógica e sequência, conduzindo o espectador a uma experiência sensorial e alucinógena, onde a abstração não deriva de um exercício conceitual, mas sim da sabedoria ancestral. Aycoobo participou, dentre outras mostras, da 60ª Bienal de Veneza (2024) e da II Bienal de Toronto (2022). 

 

Ana Prata realiza sua primeira exposição na Luisa Strina
A prática experimental da artista tem investigado a materialidade na pintura através da natureza-morta 

A artista revela-se no papel de uma engenhosa e competente observadora, que manipula usos e costumes da pintura, joga entre figuração e abstração sem ter que escolher entre elas, e com espírito colorista e alegria de uma brincadeira visual afirma a relevância e a originalidade de sua prática oposta ao sentido de uma empresa nostálgica pela pintura e pelo artista heroica. Sua arte joga com suas próprias regras. O trabalho é fonte de prazer, experiência, conhecimento e como tal se oferece. 

Ivo Mesquita, 2021 

Ana Prata. Verso, 2024. 
Foto: Edouard Fraipont


Segredo no rádio é a primeira exposição de Ana Prata na Luisa Strina. A mostra, com abertura em 22 de maio de 2024, das 18h às 21h, apresenta um conjunto de obras inéditas, produzido no último ano, que parte de uma prática experimental, utilizando-se da natureza-morta para investigar a materialidade na pintura. 

Em sua produção recente, Ana Prata tem trabalhado um dos gêneros da pintura, a natureza-morta. Na abordagem da artista, os objetos inanimados—toalhas de mesa, vasos e garrafas, frutas, flores, instrumentos musicais—surgem em formas reconhecíveis, porém deliberadamente canhestras, dotadas de um certo humor, oscilando entre o figurativo e o abstrato. Suas referências vão do modernismo à decoração de utensílios domésticos. 

Este gênero típico da história da arte se torna meio para a artista pensar especificidades físicas e concretas da pintura. Nos dias de hoje os aspectos táteis da pintura são uma resistência em relação à circulação online. Seu interesse se direciona mais em investigar o "como"—materialidade, escalas e temperamentos—do que o tema em si. "Há mil formas de dar expressividade a uma mesma paisagem, por exemplo", conta a artista. “A depender de como é pintada, se tornam paisagens diferentes”. 

Neste processo, também são colocadas em tensão a intimidade dos objetos do cotidiano, seu caráter doméstico, com sua dimensão pública, seus elementos visuais usados e reusados ao longo da história. O título Segredo no rádio alude a essas questões: a ambiguidade do que pode ser pessoal, íntimo, e ao mesmo tempo público, comum. 

Sobre a artista 

A pesquisa pictórica de Ana Prata (Sete Lagoas, 1980) reúne componentes dos repertórios modernistas e elementos da vida cotidiana comum. De grandes escalas a pequenos formatos, suas pinturas resultam, primeiramente, de sua lida com a matéria e com a experiência prática do ateliê. Trabalhando os aspectos da interioridade e do íntimo, Ana Prata estabelece sua prática como um exercício de espírito crítico. Ao apropriar-se de gêneros consagrados da história da arte, seu olhar mostra-se atento aos novos significados

que suas pinturas podem assumir, ao passo que a artista elabora de maneira precisa um vocabulário pictórico dissonante do esperado.

Ana Prata participou da 33a Bienal de São Paulo - Afinidades Afetivas, São Paulo, SP (2018), e realizou exposições individuais de destaque nacional e internacional, como Used Cloth, 56 Henry Gallery, Nova York, EUA; Stone Fruits, Tobias Mueller Modern Art Gallery, Zurique, Suíça (2023); A Vida das Coisas, Sesc Pompéia, São Paulo, SP; Em volta desta mesa, Galeria Travesía Cuatro, Cidade do México, México (2022); Retratos e Biombos, auroras, São Paulo, SP (2019); Para Hilda Hilst, Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo, SP (2018); Brasil Portraits, Discoveries, Hong Kong Art Basel, Hong Kong, China (2017); e também o elevador, o vulcão e o jantar, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2014).

Em 2011, participou da residência artística Red Bull House of Art, em São Paulo, SP, e, em 2016, da Residency Unlimited, em Nova York, EUA. Foi uma das indicadas ao Prêmio PIPA em 2017, 2018, 2019 e 2020. Seus trabalhos integram importantes coleções, como Pinault Collection, Paris, França; Jorge M. Pérez Collection, Miami, EUA; Instituto Itaú Cultural; Pinacoteca de São Paulo, SP, entre outras.

 

Sobre a Luisa Strina

Fundada em 1974, a Luisa Strina tem 50 anos de existência e ajudou a promover as carreiras de uma geração de novos artistas conceituais do Brasil, incluindo Antonio Dias, Cildo Meireles, Tunga e Waltercio Caldas. Em 1992, a galeria foi a primeira da América Latina a participar da feira Art Basel.

Luisa Strina começou a trabalhar com artistas brasileiros emergentes, como Alexandre da Cunha, Fernanda Gomes e Marepe. Ao longo dos anos 2000, o grupo foi ampliado para incorporar nomes latino-americanos — Jorge Macchi, Juan Araujo e Pedro Reyes — e artistas mulheres já estabelecidas, como Laura Lima, Leonor Antunes e Renata Lucas. Na última década, a consolidou a sua trajetória com a representação de nomes influentes incluindo Alfredo Jaar e Anna Maria Maiolino, assim como artistas mais jovens, como Bruno Baptistelli e Panmela Castro.


Serviço

Exposição Abel Rodríguez (1941–2025) e Aycoobo (Wilson Rodríguez) 

Exposição Segredo no rádio, de Ana Prata

Abertura: 22 de maio de 2025, 18h–21h 

Visitação até 28 de junho de 2025 

Horários: segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 10h às 17h

Luisa Strina - Rua Padre João Manuel, 755, São Paulo

Horário: Segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h Entrada gratuita 

Mais informações: www.luisastrina.com.br

Instagram: @galerialuisastrina

 

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