O número de hospitalizações aumentou 10% em 2024, e especialistas reforçam a importância da imunização como prevenção tanto da doença quanto de quadros neurológicos
Os casos de internação por varicela e herpes-zóster no Brasil chegaram a 4.598 no ano passado, um aumento de 10% em relação a 2023, quando foram registradas 4.168 ocorrências causadas pelo Vírus Varicela-Zóster (VVZ), causador das doenças. Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH)¹, do Ministério da Saúde.
O aumento acende um alerta para a importância da vacinação e do diagnóstico precoce, sobretudo porque um estudo² da Universidade de Stanford, publicado na última semana na revista científica Nature, relatou que a vacina contra o herpes-zóster pode reduzir o risco de demência, abrindo um novo caminho em potencial no combate ao declínio cognitivo.
A pesquisa, que analisou informações de idosos acima de 80 anos de idade que receberam a vacina contra o herpes-zóster, constatou que a imunização foi associada a uma redução relativa de 20% nos diagnósticos de demência ao longo de sete anos e que o efeito neuroprotetor foi mais evidente em mulheres.
De acordo com Alberto Chebabo, infectologista do laboratório Sérgio Franco, da Dasa, a vacina estaria associada à dupla proteção. “O imunizante ajuda a suprimir a reativação do vírus varicela-zóster e, como consequência, evita uma inflamação neurológica, um fator de risco importante para o surgimento do quadro de demência.”
Vírus da catapora pode “acordar” anos depois e causar herpes-zóster
O médico explica que o herpes-zóster é causado pelo mesmo vírus da catapora e, quando se desenvolve a doença– geralmente na infância –, o corpo vence a infecção, mas o vírus não é completamente eliminado e fica “adormecido” (latente) no sistema nervoso.
“Durante anos, ele pode ficar quietinho, sem causar problemas. Mas em situações em que o sistema imunológico enfraquece – como no processo de envelhecimento, assim como diante de altos níveis de estresse, doenças crônicas, uso de imunossupressores ou de quimioterapia-, ele pode se reativar e atingir a pele e as células nervosas, causando uma inflamação dolorosa e com bolhas, ou seja, o herpes-zóster”, explica Chebabo.
Para a dra. Maria Isabel de Moraes-Pinto, infectologista do laboratório Alta Diagnósticos, também da Dasa, há um cenário epidemiológico preocupante com relação ao herpes-zóster, pois “estudos apontam que mais de 90% da população adulta brasileira já teve catapora e, portanto, carrega o vírus VZV em seu organismo”, comenta a especialista.
Sintomas incomuns e dor prolongada: entenda como o herpes-zóster se manifesta
Entre os sintomas da doença estão as clássicas bolhas dolorosas em faixa, que aparecem em apenas um dos lados e em uma área limitada do corpo, porque o vírus segue o caminho de um nervo específico.
Mas, além delas, existem sinais iniciais que são incomuns e podem retardar o diagnóstico. “Manchas arroxeadas ou avermelhadas, principalmente em idosos ou em pessoas imunossuprimidas, podem ser confundidas com hematomas e alergias. Dores nas costas, no tórax ou no abdome que parecem dores musculares ou lombares comuns acontecem porque o vírus fica instalado em estruturas do sistema nervoso próximas à medula espinhal. E, além disso, também podem ocorrer sintomas neurológicos, como encefalites e paralisias e até problemas de visão, que podem se agravar e levar à necessidade de internação”, detalha a infectologista do Alta Diagnósticos.
Outra característica do herpes-zóster são as dores prolongadas que podem persistir até mesmo após a cicatrização das bolhas. “Quando o vírus varicela-zóster é reativado, ele ataca também os nervos sensoriais que transmitem sinais de dor ao cérebro. A inflamação danifica as células nervosas, que ficam desorganizadas e supersensíveis. Então, o corpo fica ‘confuso’ e emite sinais de alerta de dor mesmo depois que a infecção ativa desaparece”, explica Alberto Chebabo.
A ocorrência é chamada neuralgia pós-herpética, uma das complicações do vírus varicela-zóster e uma das causas de hospitalização. Ela pode durar anos e acomete, principalmente, indivíduos com mais de 60 anos.
Segundo a dra. Maria Isabel de Moraes-Pinto, a melhor forma de evitar a doença é por meio da vacinação, disponível na rede particular de laboratórios.
“Com o passar dos anos, o corpo vai perdendo a capacidade de responder com eficiência a infecções. Por isso a vacinação é importante, pois ajuda a reestimular a imunidade, sobretudo em idosos que enfrentam um processo natural de envelhecimento do sistema imunológico. A vacina tem demonstrado alta eficácia, acima de 80% na prevenção do herpes-zóster”, finaliza Maria Isabel.
Referências
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