TRECHOS
“Nessa noite compreendi que eu não pretendia me ocupar nem com arte, nem com tecnologia, nem com a nossa era, que jamais me debruçaria sobre nenhum dos temas, contextos ou problemas ali tratados publicamente, e tive a certeza de que queria Malina e que tudo o que eu queria saber teria que vir dele.” (p. 7)
“Temos sorte eventualmente, mas a maioria das mulheres não deve ter sorte nunca. O que quero dizer não tem nada a ver com o fato de que aparentemente existem alguns poucos bons amantes, até porque eles não existem. Isso é uma lenda que precisa ser extinta um dia, no melhor dos casos existem homens com os quais a situação é absolutamente desesperadora, e outros com os quais não é tão desesperadora assim.” (p. 282)
“[...] como havia tempos as pessoas se perguntavam o que virá após a morte, com o mesmo grande ponto de interrogação inútil, porque é algo inimaginável. Só sei que não sou mais como era antes, não conheço melhor nem um fio de cabelo de mim mesma, não me aproximei em nada de mim. É sempre a desconhecida trespassando uma desconhecida.” (p. 305)
“malina Receio que você esteja realmente ficando louca.
eu Nem tanto. E não fale como (piano, pianissimo) Ivan.
malina Não fale como quem?
eu (abbandonadosi, sottovoce) Ame-me, não, mais do que isso, ame-me mais, ame-me inteiramente, para que tudo isso acabe logo.” (p. 307)
“Malina realmente não esconde nada, pois, no melhor dos sentidos, não tem nada a dizer. Ele não toma parte na confecção desse grande texto, essa textura que se alastra, e a grande urdidura vienense ganha buracos que surgiram unicamente através de Malina. E por isso mesmo ele é a negação mais extrema de todo tipo de incitação, estímulo, divulgação, irrupções, justificações — e do que teria Malina que se justificar?” (pp. 310-311)
“eu (forte) O que o meu eu tem que seja pior que os outros?
malina Nada. Tudo. Pois tudo o que faz é em vão. Eis o imperdoável.
eu (piano) Ainda que seja imperdoável, quero continuar me dispersando, me perdendo, me desnorteando.
malina O que você quer já não conta. A certa altura, você não terá mais querer. Você será tão você mesma que poderá abdicar do seu eu. Neste único ponto, o mundo será salvo por alguém.” (p. 324)
Nenhum comentário:
Postar um comentário