Rodrigo Spínola*
Em abril deste ano, um levantamento divulgado pela imprensa junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou que a venda de anabolizantes com testosterona sintética saltou 670% nos últimos cinco anos, no Brasil. Esses produtos foram proibidos pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para uso estético desde 2023. Diante do aumento expressivo nas vendas, é essencial esclarecer a população sobre o uso correto da testosterona sintética, que é indicada para o tratamento do hipogonadismo — uma condição em que os testículos não produzem testosterona em níveis adequados. É fundamental respeitar as indicações e contraindicações do tratamento, sempre com acompanhamento médico.
O aumento expressivo na venda de testosterona sintética se deve, em grande parte, ao uso inadequado por homens e mulheres que buscam ganho rápido de massa muscular, melhora na performance física e emagrecimento, com foco estético. Muitas vezes, esse uso é incentivado por amigos, redes sociais ou grupos de academia, sem a devida orientação sobre os riscos para a saúde.
O uso indiscriminado de anabolizante leva à infertilidade e outras consequências na saúde dos homens. A testosterona é um hormônio que desempenha papel fundamental no desenvolvimento de tecidos reprodutores masculinos, como testículos e próstata, bem como a promoção de características sexuais secundárias, como o aumento da massa muscular, aumento e maturação dos ossos e o crescimento do cabelo corporal.
É produzida naturalmente nos testículos, mas algumas condições podem levar à sua baixa produção, tornando a reposição necessária. Embora seja mais comum em homens mais velhos, há jovens que podem precisar desse tratamento. Sempre informo meus pacientes sobre os impactos na fertilidade e outras implicações. Além da reposição, existem alternativas, como outras medicações ou hormônios, que podem estimular a produção natural de testosterona.
Recentemente, atendi um homem de 26 anos com níveis muito baixos de testosterona e sintomas que afetavam sua vida. Nesse caso, a reposição visa melhorar sua qualidade de vida, aliviar os sintomas e reduzir o risco cardiovascular. Para prescrever a reposição, é essencial avaliar cuidadosamente os critérios de indicação e contraindicação, que variam em cada situação.
Atualmente, muitos homens que atendo procuram a testosterona como solução para disfunção erétil, baixa libido ou falta de energia. Outros a buscam como forma de combater o desânimo ou até mesmo a depressão. Há uma crença comum de que todos esses problemas estão relacionados à testosterona. No entanto, nem sempre a baixa de testosterona é a causa dessas condições. Na verdade, na maioria dos casos, quando fazemos a dosagem, os níveis de testosterona estão normais.
Esses sintomas não são exclusivos do hipogonadismo e podem estar relacionados a outras condições, como insatisfação profissional, problemas no relacionamento, preocupações familiares, desânimo com a vida ou outras questões de saúde. Por isso, é importante abordar o paciente com cautela, dizendo algo como: 'A testosterona não resolve todos os problemas; é preciso avaliar outros fatores.' Além disso, explico os possíveis riscos do uso de hormônios sintéticos: 'Você sabe que o uso prolongado de testosterona pode afetar sua capacidade de ser pai, certo? Se você usar o hormônio por muito tempo, acabará dependendo dele, pois seus testículos perderão o estímulo natural.'
É fundamental que o paciente entenda que a testosterona tem contraindicações sérias e não é uma medicação isenta de riscos. Além disso, existem outras abordagens, como psicoterapia e avaliação com um psiquiatra, que podem ser exploradas. Esse é um enfoque preventivo. O uso de testosterona como anabolizante, além dos impactos cardíacos, pode causar trombose venosa profunda, problemas hepáticos, aumento da acne, queda de cabelo e retenção de líquidos. É totalmente contraindicada para pacientes com histórico de câncer de próstata ou de mama.
A testosterona sintética pode ser comercializada no Brasil para os casos de reposição hormonal na forma injetável ou em gel. A única indicação de reposição do hormônio é quando o paciente tem um exame feito em laboratório confirmado para nível de testosterona no organismo abaixo de 300. Para isso, são necessárias duas dosagens abaixo de 300, em dias diferentes, e apresentar sintomas.
Não adianta o paciente apresentar sintomas se seus níveis de testosterona estão em 500, pois não indicamos reposição nesse caso. Para que o tratamento seja necessário, é preciso que ambas as condições estejam presentes: níveis baixos de testosterona, confirmados laboratorialmente, e sintomas associados, como redução da libido, fadiga, cansaço e síndrome metabólica, entre outros sinais que avaliamos. Geralmente, após a reposição, os níveis de testosterona ficam entre 400 e 900 – sendo até 1.000 um valor aceitável.
O uso adequado da testosterona, quando indicado para reposição, traz benefícios ao paciente, como a redução do risco cardiovascular e a melhora na qualidade de vida. No entanto, o uso indevido com fins estéticos, como anabolizante, pode causar danos graves. Já vi pacientes com níveis de testosterona acima de 3.000, e, nesses casos, os efeitos prejudiciais ao organismo são evidentes. É crucial que os homens cuidem bem de sua saúde desde a juventude, pois decisões mal-informadas nessa fase podem acarretar consequências irreversíveis no futuro.
* Rodrigo Spínola é médico urologista e andrologista na Origen BH, especializado em medicina sexual e reprodutiva masculina
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