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terça-feira, 4 de novembro de 2025

O luto invisível das cidades que sangram: quando a guerra urbana tira a paz de quem sobrevive

 

Psicóloga Danny Silva explica como o trauma coletivo afeta emocionalmente quem vive a violência sem estar diretamente envolvido — e como reconhecer os sinais desse luto silencioso.


Rio de Janeiro, outubro de 2025 — Após dias de tensão e confronto na capital fluminense, o Rio tenta retomar a normalidade. Mais de 130 pessoas perderam a vida, segundo dados divulgados pela Agência Brasil, e milhares de moradores ficaram emocionalmente abalados. O que nem sempre se percebe é que o impacto da violência vai além do que é visível: ele se infiltra na rotina, nas emoções e no corpo de quem apenas assistiu aos acontecimentos.

De acordo com a psicóloga Danny Silva, o chamado “luto invisível” surge quando há perdas simbólicas — como a sensação de segurança, de previsibilidade ou de pertencimento — sem que exista um reconhecimento social para essa dor. “Muitas pessoas sofrem intensamente mesmo sem relação direta com as vítimas. É o sofrimento por viver em um ambiente de medo constante, por perceber a fragilidade da vida e a ausência de controle sobre o que acontece ao redor”, explica.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% das pessoas expostas a situações de violência urbana desenvolvem sintomas relacionados a transtornos de ansiedade, depressão ou estresse pós-traumático. Esse dado reforça o que Danny observa em consultório: “Há uma epidemia silenciosa de traumas que se expressam em formas sutis — como irritabilidade, desmotivação, dificuldade de concentração e evitação de notícias.”


 Como identificar se estou vivendo um luto invisível

A psicóloga aponta alguns sinais comuns que indicam que a pessoa pode estar passando por esse tipo de luto, mesmo sem perceber:

  • Sensação constante de alerta ou medo, mesmo em locais seguros;
  • Sono leve, insônia ou pesadelos recorrentes;
  • Evitação de locais, pessoas ou notícias que lembrem a violência;
  • Tristeza sem causa aparente, desânimo ou perda de prazer nas atividades;
  • Culpa por estar bem enquanto outros sofrem;
  • Dificuldade de se concentrar ou sensação de estar “entorpecido” emocionalmente.

“Esses sintomas são formas que o corpo encontra para expressar o trauma. O luto invisível nem sempre se manifesta em lágrimas; muitas vezes, aparece em silêncios, bloqueios e distanciamentos”, afirma Danny.


 Caminhos de reconstrução emocional

Para a psicóloga, a superação desse estado passa por três etapas:

  1. Reconhecer a dor — nomear o que se sente e validar a própria emoção é o primeiro passo para reorganizar o emocional;
  2. Criar rituais simbólicos — fazer uma oração ou escrever uma carta podem funcionar como despedidas simbólicas, ajudando a mente a processar a perda;
  3. Buscar pertencimento e acolhimento — participar de grupos de apoio, terapia individual ou comunitária, e fortalecer vínculos com familiares e amigos.

Danny Silva destaca que o acolhimento psicológico é fundamental: “Não é sinal de fraqueza buscar ajuda. É um ato de coragem. A terapia oferece um espaço seguro para legitimar o trauma, ressignificar o medo e reconstruir o senso de segurança interna.”

Mais do que um tema clínico, o luto invisível é uma questão social e humana. “Cuidar das feridas emocionais que a violência deixa é tão importante quanto garantir a segurança nas ruas. Uma cidade saudável é aquela que se preocupa também com o que não se vê — a dor que se instala nas pessoas que apenas tentam continuar vivendo”, conclui a psicóloga.


 

Sobre Danielle Silva

Danielle Silva é psicóloga e especialista em terapia sistêmica familiar. Com uma abordagem humanizada, atua no acompanhamento de famílias e indivíduos, ajudando-os a superar desafios emocionais e comportamentais. Seu trabalho tem impactado a vida de diversos pacientes, promovendo o autoconhecimento e o fortalecimento das relações interpessoais.

   CRP:05/67277 

Instagram: @psi.dannysilva

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