Na primeira parte, O professor e eu, um jovem estudante (narrador), se aproxima de um homem mais velho a quem passa chamar de professor. Aos poucos, por meio de conversas, o jovem começa a perceber sentimentos de solidão e culpa que sempre pairam ao redor do professor. Na segunda parte, Meus pais e eu, acompanhamos o narrador em sua terra natal, enfrentando dilemas pessoais e familiares. Já na última parte, O professor e o testamento, o professor ganha centralidade por meio de uma longa carta e traz essas questões à tona de forma dilacerante, como se seu próprio coração pulsasse nas entrelinhas das palavras ali escritas, revelando a história por trás de sua juventude e explicando o seu desprezo pela humanidade. É nesse desfecho que o romance alcança seu ponto mais profundo e o leitor se depara com a perspectiva de o mundo como algo assombroso e intrincado.
Como uma obra que possibilita novas interpretações a cada leitura, Natsume Soseki apresenta em Kokoro retratos da complexidade do coração e da fragilidade das conexões interpessoais. Seu título reúne múltiplos sentidos: coração, mente, alma, espírito, sentimento, determinação, essência, de forma que uma simples tradução literal da palavra resultaria em uma apreensão incompleta de seu significado. Elegante e melancólico, Kokoro é um mergulho nos labirintos da consciência, naquilo que não se diz, mas que molda vidas inteiras. Uma obra que fala da impossibilidade de escapar da solidão — e da necessidade de entendê-la com honestidade.
Além de seu imenso legado literário, Kokoro conquistou novos leitores por diferentes meios. Em 2009, ganhou uma adaptação para anime no projeto Aoi Bungaku (Literatura Azul), produzido pelo Estúdio Madhouse. A obra também é parte dos livros didáticos de literatura do ensino médio no Japão, reafirmando sua relevância e permanência como uma das mais importantes da literatura mundial.
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