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quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Encenado na capela de um cemitério em São Paulo, Queda de Baleia ou Canto para Dançar com Minha Morte estreia no dia 12 de setembro

 Solo de Bruna Longo, com codireção de Vitor Julian, propõe reflexão sobre o tabu da morte na vida cotidiana


Crédito: Danilo Apoena


“Os adultos atormentados 

pela ansiedade da morte 

não são pássaros estranhos 

que contraíram alguma doença exótica, 

mas homens e mulheres cuja família e cultura 

falharam em tricotar as roupas protetoras adequadas 

para que resistissem ao frio gelado da mortalidade”.

(Irvin Yalom, Psiquiatra)


A atriz, dramaturga e diretora Bruna Longo parte de sua experiência íntima com o falecimento de seu pai para propor uma reflexão sobre o tabu da morte no solo Queda de Baleia ou Canto para Dançar com a Minha Morte.  O espetáculo, que tem co-direção de Vitor Julian, tem sua temporada de estreia na capela do Cemitério do Redentor, no Sumaré, de 12 de setembro a 26 de outubro, com apresentações de sexta a domingo, sempre às 19h.

E, para discutir esse tema tão humano e tão inescapável, a atriz imagina a própria morte. Na trama, ela acaba de morrer e procura elaborar o luto de si mesma, enquanto propõe uma reflexão sobre a relação humana com a finitude, o processo de eliminação do rito fúnebre nas sociedades capitalistas ocidentais, o medo, o silêncio e a negação da morte.

A dramaturgia por Bruna Longo

“Dia 26 de julho de 2022, às 01:52 da manhã, meu pai morreu. Ao meio-dia seguinte iniciou-se o velório. Às 16:00 seu corpo foi colocado dentro do jazigo da família no cemitério do Araçá, em São Paulo, capital. 

O que se seguiu foram dias de burocracias em bancos, cartórios, seguros. Dias que viraram semanas, meses. Nenhum convite a qualquer rito de passagem de uma realidade a outra. De filha a órfã. Todos os paradigmas mudaram subitamente. Nenhum tempo ou espaço para a elaboração. Nada. Não venho de uma família com crenças religiosas. Sou atéia, materialista. Não via, de imediato, nenhum caminho satisfatório para a elaboração da maior dor que já senti na vida. 

Dois dias depois da morte do meu pai, passei a usar o barro desse luto como material para meu trabalho. Iniciei o único caminho que a mim parecia possível para essa elaboração. Meu templo é o teatro, minha liturgia é a pesquisa artística, minha reza é a dramaturgia. E esse é o germe deste espetáculo. 

A morte é, para nós ocidentais, talvez o último intransponível tabu. Não falamos sobre ela. Não sabemos lidar com ela. No entanto, ela é também a única certeza inexorável. Num período histórico em que guerras, tragédias coletivas, violência, epidemias e pandemias são noticiadas em tempo real como nunca fora possível, e que a indústria cultural capitaliza em cima desses temas com espetacularização, a morte cotidiana se transformou em um assunto velado. 

O processo de morte foi higienizado, burocratizado. O avanço da ciência e da medicina prolongou nossas vidas, mas também mudou a forma como morremos. Não se morre mais em casa, mas em hospitais – lugares onde busca-se vencer a morte, muitas vezes prolongando o inevitável. Ritos fúnebres são cada vez mais rápidos, padronizados e industrializados – com o boom de cremações comerciais. 

A hipervalorização da juventude não quer nos deixar lembrar que morremos. Nós, homo sapiens sapiens. Sempre esquecemos o último sapiens do nosso gênero. Somos humanos que não só sabemos, mas sabemos que sabemos. Para muitos historiadores e antropólogos, o nascimento da cultura humana como a entendemos está ligado ao luto. 

A morte inspirou os primeiros ritos humanos, os primeiros hieróglifos, as primeiras histórias contadas em volta da fogueira. O nascimento da filosofia, da religião, da arte. Elaborar o luto inaugura quem somos, e, ao renunciarmos a isso, renunciamos a uma angústia metafísica essencial. Não falar da morte não a afasta, apenas a torna mais temerosa.”

Ficha Técnica

Direção, elenco, dramaturgia, cenografia, figurinos: Bruna Longo

Co-Direção e provocações dramatúrgicas: Vitor Julian

Provocações estéticas (figurinos e cenografia): Kleber Montanheiro

Visagismo: Fabia Mirassos

Sapatos: Marcos Valadão

Desenho de Luz: Gabriele Souza

Esqueleto de baleia: Paul Zanon

Cenotécnica: Evas Carreteiro

Provocações de movimento: Paula D’Ajello

Provocações de Kung Fu: Daniel Fusco

Preparação vocal: Jessé Scarpellini 

Trilha sonora incidental: L.P. Daniel

Direção de Produção: Paula Malfatti  

Ilustrações: Victor Grizzo

Fotos: Danilo Apoena

Sinopse

Bruna Longo acaba de morrer e procura elaborar o luto de si mesma – a única coisa que não podemos fazer empiricamente – enquanto reflete sobre a relação humana com a finitude, o tabu da morte na vida cotidiana e o processo de eliminação do rito fúnebre nas sociedades capitalistas ocidentais. O espetáculo é inspirado na morte recente do pai da atriz.

Serviço

Queda de Baleia ou Canto para Dançar com Minha Morte

Temporada: 12 de setembro a 26 de outubro de 2025

De sexta a domingo, sempre às 19h

Capela do Cemitério do Redentor Av. Dr. Arnaldo, 1105 - Sumaré, São Paulo - SP, 01255-000

Ingressos: R$60 (inteira) e R$30 (meia-entrada)

Vendas online em Sympla 

Duração: 80 minutos

Classificação: 12 anos

Lotação: 20 lugares


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