“Uma mulher anda sobre as águas” propõe uma cosmogonia matriarcal, invertendo narrativas tradicionais e exaltando o poder criador da mulher; obra será lançada durante a Flip 2025
“A habilidade de Rogers em encantar e nos laçar com a palavra é admirável.”
Trecho do texto de contracapa assinado pela escritora premiada Monique Malcher
Em seu mais recente livro, "Uma mulher anda sobre as águas" (Patuá), a poeta e escritora Cecília Rogers reconstrói a criação do mundo a partir de uma perspectiva feminina, lírica e onírica — ou como ressalta a poeta Jussara Salazar na apresentação do livro, "A poeta fala em nome de e através de uma Lilith que atravessa o poema a cada página, onde ninfas nascem como flores aquáticas." A obra, dividida em cadernos que remetem aos dias da gênese, culmina em um poema extenso que dá título ao livro — um êxtase que contrapõe o apocalipse bíblico. "Aqui não é mais a mulher gerada pela costela de Adão, mas dona de sua vontade, numa nova gênese, solar e feminina", explica a autora. Cecília estará na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2025, lançando sua obra na Casa Gueto (Rua Benedito Telmo Coupê - antiga rua Fresca, nº 277) durante o evento.
A água, elemento central na escrita de Cecília, surge como metáfora de transformação e resistência. "É de onde essa mulher se levanta, das lágrimas submersas para alagar a terra seca, dando vida a um novo mundo", reflete. A poeta mergulhou em referências que vão desde Herberto Helder e Sophia de Mello Breyner Andresen passeando pelas deusas míticas, pelos arcanos principais do Tarô de Marselha e pelas matriarcas e sua linhagem, para tecer uma narrativa que resgata o protagonismo feminino apagado pela História. "Ela dirá: no princípio era o verbo, e o verbo era Mulher", adianta.
Com mentoria da escritora Mell Renault, o livro foi construído em seis meses, mesclando estrutura poética e força simbólica. Cecília destaca que a obra é um ato de libertação: "Escrever esse livro foi como viver em um lugar de empoderamento. Ao levantar essa mulher, dei luz a uma vontade interior de romper amarras". A mensagem, segundo ela, é clara: "Resgatar o papel da mulher como protagonista da Criação — um lugar que sempre lhe foi negado".
A premiada escritora Monique Malcher destaca no texto da contracapa, "o milagre da poesia de Cecília Rogers abre novamente o Mar Vermelho, desta vez para fazer jus à gênese mulher, que sai não das costelas de um outro, mas das línguas feridas, da espuma até então silenciosa de nossos abismos e revoltas. Uma mulher que consegue saciar sua própria sede. O que aprendemos se desfaz. A habilidade de Rogers em encantar e nos laçar com a palavra é admirável."
"Uma mulher anda sobre as águas" consolida a trajetória literária da autora, que já publicou quatro livros de poesia e o romance "Agualuz" (2023). Cecília, que também é engenheira e mestre em Letras pela UFF, encontra na escrita um veículo para discutir ancestralidade, violência e resistência. "Minha palavra busca romper com o silenciamento imposto às mulheres", afirma.
Sobre a autora
Cecília Rogers é poeta, escritora e ensaísta, nascida e residente em Niterói (RJ). Com formação em Engenharia Elétrica e Letras, é mestre em Literatura Portuguesa e Africana pela UFF. Premiada no I Concurso Poeta Carvalho Jr. e finalista no Off FLIP, integra coletivos literários como o Escreviventes e o Mulheres Poetas de Niterói. Publicou "Ardia a poesia em Maria" (2018), "Poesia de Vó" (2020), 'Contas do rosário" (2021) e "Submersa" (2022), além do romance "Agualuz" (2023). "Uma mulher anda sobre as águas" é seu quinto livro de poesia.
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